segunda-feira, 14 de setembro de 2015

CURIOSIDADES: O NOME MOSQUEIRO

 

Em fevereiro de 2011, fizemos uma postagem sobre o nome Mosqueiro intitulada “O Nome da Ilha”, a qual expõe diferentes explicações para a origem do termo. Entretanto, as opiniões dos autores que estudaram o assunto convergem somente para um ponto: o moqueio (prática indígena de conservação do peixe e da caça). O Prof. Eduardo Brandão afirma, inclusive, que, por desconhecerem a palavra indígena, os portugueses substituíram-na por Mosqueiro, topônimo largamente usado em Portugal e na Espanha.

Mas, afinal de contas, qual o sentido mais remoto da palavra Mosqueiro?

Após pesquisar sobre o tema, o Prof. Alcir Rodrigues apresentou em seu blog a seguinte postagem:

UMA CURIOSIDADE SOBRE O NOME MOSQUEIRO, EM ALGUNS LUGARES EM PORTUGAL

Postado pelo Prof. Alcir Rodrigues

Para quem tem fixação pela etimologia, e a primeira ideia que se passa pela cabeça da pessoa quando ouve uma palavra que nomeia um lugar (diz-se tecnicamente que é um topônimo), é descobrir seu sentido mais remoto, pode se sentir motivado a ler o que segue abaixo:

Para quem desconhece, a palavra ‘mosqueiro’ também pode ter o sentido de olmo, ulmo, ulmeiro, mosquedo ou negrilho (todos nomes da mesma espécie de vegetal).

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Disponível, esta imagem, em:

http://dias-com-arvores.blogspot.com.br/2009/07/negrilho-sem-saida.html. Acesso em: 24 ago. 2015.

Em Portugal, também dá nome a vários lugares. É, existem, no mínimo, em torno de 40 lugares ou localidades por lá.

Vejamos o verbete em dicionário online:

mos·quei·ro

Substantivo masculino

1. Lugar onde há muitas moscas.

2. Utensílio para apanhar ou afugentar moscas.

3. Artefato ou cobertura de arame para preservar a comida do contato das moscas.

4. Ninho de moscas.

5. Mosquedo.

6. Negrilho (árvore).

7. [Gíria] Casa.

8. [Brasil]. Hospedaria ordinária. = FREGE

Adjetivo

9. Que se inquieta e foge (quando perseguido pelas mosca).

   Sair a alguém o gado mosqueiro
•  Suceder a alguém o contrário do que esperava.


"mosqueiro", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,

http://www.priberam.pt/DLPO/mosqueiro [consultado em 25-08-2015].

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O escritor Leonel Neves (1921-1996) escreveu um livro intitulado O cão, o gato e a árvore (1987).

Transcript of "A Arvore - Leonel Neves":

1. In O CÃO, O GATO E A ÁRVORE de Leonel Neves (Manuela D. L. Ramos Outubro 2010)

2. Mesmo no centro da vila e no meio do jardim, perto do rio estreito e de uma pontezinha, há um ulmeiro. É uma árvore tão alta que pode ser vista de qualquer ponto da vila, cujas casas mais altas não chegam a ter metade daquela altura; uma árvore tão grossa e de copa tão larga que a sua sombra cobre quase todo o jardim, um grande quadrado de terra com uma moldura de canteiros de flores e de bancos verdes; e tão velha que o mais velhinho dos velhos da vila conta que já falava dela o seu avô e que este lhe tinha dito que já também dela falava o avô dele, e acrescenta: Fotografia do célebre ulmeiro de S. Martinho de Anta, imortalizado por Miguel Torga no poema “A um negrilho”. Imagem reproduzida do livro de Ernesto Góes, Árvores monumentais de Portugal (Portucel, 1984)

3. — Viu-nos nascer a todos. É tão velha como o mundo e parece sempre nova. Ora vejam: eu tive o cabelo preto, mais tarde da cor das cinzas, depois branco e hoje nenhum. Mas ela tem sempre aquela linda cabeleira verde... E toda a gente da vila de Mosqueiro sentia muita satisfação em a sua terra pequenina possuir uma árvore tão grande. Imagem: Ulmeiro em Almeida (distrito da Guarda) antes de ser escandalosamente mutilado. Fotografia de Pedro Nuno Teixeira Santos in Árvores de Portugal

4. Ora um dia tal satisfação transformou-se em orgulho. Foi quando lá apareceu, de propósito para ver aquele ulmeiro, o sábio Doutor Pafúncio, então a fazer uma cura de águas nas Termas, uma aldeia pendurada na encosta da serra próxima da vila. O Dr. Pafúncio da Silva era professor de Zoologia (o estudo dos animais), de Botânica (o estudo das plantas) e Mineralogia (o estudo do que não é animal nem planta, como as pedras e as rochas). Imagem: flores, folhas e frutos do ulmeiro in Flora von Deutschland Österreich und der Schweiz (1885)

5. Esteve mais de dez minutos a andar à roda da árvore, a olhar para ela, muito calado, e por fim disse: — É um belo ulmeiro, talvez o maior ulmeiro português. Devia ser considerado monumento nacional. E deu o nome à tua vila, como sabes. O senhor Presidente da Câmara, que tinha sido colega do sábio na Universidade de Coimbra e o levara junto da árvore, ficou de boca aberta e gaguejou: — O... o quê!? — Ulmeiro... Mosqueiro — disse o doutor Pafúncio. Estás a perceber — Não — respondeu o senhor Presidente. Ora explica lá isso. Imagem: detalhe de uma alameda de 11 ulmeiros, na Guarda, classificados de interesse público em 2008. Fotografia de Pedro Nuno Teixeira Santos in Árvores de Portugal

6. — Ulmeiro ou ulmo é o mesmo que olmo ou olmeiro. Mas também pode ter outros nomes: negrilho, lamegueiro ou... mosqueiro. Se não acreditas, vai ver a um bom dicionário. Com certeza esta árvore, há algumas centenas de anos, é que deu o nome a esta vila. Donde julgavas tu que vinha o nome da tua terra? — Eu... eu... E achas que isto é um monumento nacional? — perguntou o senhor Presidente. — Devia ser — respondeu o sábio. — Mas, pelo menos, é de interesse público, o que quer dizer que, sendo como é uma árvore tão antiga, tão alta e tão bonita, ninguém lhe pode fazer mal, ninguém a pode cortar. É da lei! Encontras tudo isso num decreto* publicado há muitos anos no “Diário do Governo” (hoje Diário da República). As plantas, os animais e os minerais para além do seu nome comum, vulgar ou vernacular (da língua própria de um país) também têm um nome científico, em latim, que se escreve em itálico. O ulmeiro mais comum em Portugal é o Ulmus minor (carregar para aceder à ficha desta espécie no ARBORIUM, Atlas das árvores de Leiria (on line) •Trata-se do Decreto-Lei nº 28468 de 15 de fevereiro de 1938 ver aqui. • Esta lei está em processo de revisão. >

7. O senhor Presidente da Câmara ia quase desmaiando de alegria. E, passada uma hora, todas as pessoas da vila sabiam daquela conversa com o doutor Pafúncio, toda a gente estava muito contente; e a satisfação de haver na sua vila pequenina uma árvore tão grande, um ser tão importante, transformou-se em orgulho. E até havia razão para esse contentamento e para esse orgulho, porque para os mosqueirenses era como se lhes tivessem tirado de cima um grande peso: a troça que deles costumavam fazer as outras pessoas quando, longe da vila, eles diziam que eram de Mosqueiro. Mais ou menos isto: — Ah! Você é de Mosqueiro? Terra feia e suja, sítio de moscas, não é? — Nada disso. É até uma vila muito branca e muito limpa. — Pois sim, está-se mesmo a ver: Mosqueiro... E, afinal, Mosqueiro era o nome do ulmeiro do jardim!

8. Os mosqueirenses ficaram por isso muito contentes, orgulhosos e comovidos. Assim aconteceu com Zé Pataco, vendedor de jornais, poeta popular e repentista, tão comovido que não conseguiu, nem quis dizer de repente uma quadra, como costumava fazer a propósito de qualquer pessoa ou de qualquer caso engraçado. Dessa vez, Zé Pataco resolveu pensar muito bem... e escreveu uma poesia, até com título, que foi publicada na primeira página do jornal da vila, por baixo de uma fotografia do ulmeiro tirada por Quim Santos e ao lado das declarações do sábio doutor Pafúncio sobre a árvore. Era assim:

9.                A Madrinha

Se em Mosqueiro há casas toscas,

a vila é limpa e decente.

Mosqueiro é terra de gente,

nunca foi terra de moscas.

 

Tem um orgulho profundo

no seu nome: assim se chama

o seu ulmeiro de fama,

que é o maior deste mundo.

 

Viste, ó árvore velhinha,

nascer este povo inteiro

e a todo o povo pertences.

 

Tu és a nossa Madrinha,

pois deste o nome a Mosqueiro

e a todos os mosqueirenses.

 

10. O Sr. Presidente da Câmara enviou logo às autoridades competentes do Governo, em Lisboa, com esse número do jornal “A Voz de Mosqueiro”, uma carta a pedir que o enorme ulmeiro fosse considerado monumento nacional. E, passado algum tempo, recebeu de Lisboa a resposta, com um exemplar do “Diário da República” que dizia respeito ao caso... e um letreiro com vidro e moldura, uma placa que devia ser colocada na árvore e em que, a seguir ao seu nome em latim e antes do número do decreto que nela falava, estava escrito: Árvores de Interesse Público – Monumentos Vivos «O que são árvores de interesse público? São árvores que pelo seu porte, desenho, idade e raridade se distinguem dos outros exemplares. Também os motivos históricos ou culturais são factores a ter em conta. » aqui Av. João Crisóstomo, 28 1069-040 LISBOA Tel.: 213 124 800 E-mail: info@afn.min- agricultura.pt Ulmus minor ULMEIRO (Mosqueiro) Considerado de interesse público. Decreto-Lei nº 28468 de 15 de fevereiro de 1938. Imediatamente foi combinado fazer-se uma grande festa para a colocação da placa. E assim se fez... e foi uma festa muito bonita. (…)

11. ž “A árvore” in O cão, o gato e a árvore de Leonel NEVES. 2ª ed. Lisboa: Asa, 1987 Nota: este livro encontra-se esgotado. Alguns links de Interesse Árvores de Interesse Público - Monumentos Vivos (Autoridade Florestal Nacional) Base de Dados das Árvores Classificadas de Interesse Público (id.) Árvores classificadas (Dias com Árvores) Árvores classificadas (Sombra Verde) Classificação de Árvores de Interesse Público (Árvores de Portugal) Registo Nacional de Árvores Notáveis (Árvores de Portugal) Manuela D.L. Ramos Outubro 2010

Disponível em: http://pt.slideshare.net/manueladlramos/a-arvore-leonel-neves. Acesso em: 24 ago. 2015.

FONTE:

http://moskowilha.blogspot.com.br/2015/08/uma-curiosidade-sobre-o-nome-mosqueiro.html

PESQUISE NESTE BLOG:

http://mosqueirando.blogspot.com.br/2011/02/curiosidades-mosqueiro-o-nome-da-ilha.html

MOSQUEIRANDO:

O interessante é que o soneto “A Madrinha”, homenageando a árvore que originara o nome da pequena Vila portuguesa, foi publicado no jornal daquela localidade. E o título do jornal, A Voz do Mosqueiro, seria, nos meados do século XX, utilizado por Joanílson Baker Agrassar para nomear a sua Rádio a Cabo, a qual interligava diversos pontos da nossa Vila (na Ilha do Mosqueiro/PA), levando música e informação ao povo mosqueirense e aos veranistas que usufruíam das belezas paisagísticas do lugar.

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