quinta-feira, 24 de abril de 2014

A ILHA CONTA SEUS CAUSOS: A LENDA DO “CAPA PRETA”

 

Autoria: Mosqueiro Vírgula

(PRAIA DO BISPO)... o nome tem que permanecer...

Essa história aconteceu há muitos e muitos anos atrás na Vila do Mosqueiro... Seu Antônio jurava de pés juntos e se benzia com a mão esquerda toda vez que contava o ‘causo’... Ele que trabalhou como guarda noturno, vigiando as casas, principalmente dos endinheirados que moravam na capital. Esses vigias não usavam armas de fogo, usavam apenas um cacete de madeira e um apito para fazer alarme e a comunicação com outros vigias.

Nessa época, já havia sido inaugurada a estação que distribuía energia elétrica para parte do vilarejo... Era um motor-- gerador de última geração importado, ‘Caterpillar’ de Ignitor Diesel... Havia uma caldeira onde colocavam pedaços de lenha (madeira) para elevação da Usina Termelétrica e equilíbrio da energia. Moradores da Vila que vivenciaram, comentam que a caldeira servia também para incinerar cachorros que eram pegos na rua pela famigerada carrocinha... A Usina era popularmente chamada de (Force-luz da companhia Cia Força e Luz) e funcionava na Rua 15 de Novembro, esquina com a Travessa Pratiquara no bairro da Vila. Neste local, havia uma chaminé que tinha aproximadamente 115 metros de altura e soltava fumaça no ambiente... Sabe-se também, que lá do alto da chaminé era possível ver a ilha de Outeiro nitidamente e a vista do pôr-do-sol mais lindo do mundo. Quando a usina foi desativada, demoliram a famosa chaminé. Infelizmente nessa demolição teve uma vitima fatal. Atualmente no endereço, “funciona” o prédio da Agência Distrital de Mosqueiro. Se o patrimônio houvesse sido conservado, hoje a CHAMINÉ poderia ser um símbolo histórico da nossa Mosqueiro e um atraente ponto turístico.

As luzes ficavam acesas até as 23 horas... Uma sirene soava melancólica. Era o momento de desligar os motores e Mosqueiro ficava no escuro. Contam os mais antigos que nessa escuridão era que as coisas estranhas aconteciam. Gente que virava porco, Matintaperera apitava, “O Assobiador” assobiava, almas penadas gritavam e transitavam livremente pelas ruas... Havia um lugar pior que tudo isso. Depois que as luzes se apagavam, ninguém se aventurava passar por lá... A CURVA DA “VILA FANECA”, que fica à Beira Mar no final da Praia do Bispo. Nesse lugar aparecia um ser misterioso e fazia qualquer marmanjo correr... Seu Antônio, homem ranzinza e metido a corajoso, era daqueles “cabras” que diziam não ter medo de nada; era igual ao São Tomé, “queria ver para crer”. Ele afirmava já ter dormido no cemitério várias vezes, assustado Matintaperera e posto Lobisomem para correr... De tanto ouvir falar nas assombrações que apareciam na “Vila Faneca” resolveu constatar o fato e trabalhar como guarda noturno. Certa noite, daquelas escuras como um “breu”, resolveu caminhar em direção à famosa curva assombrosa... Tudo aconteceu numa sexta-feira próximo à meia-noite. Era verão. Os pensamentos obsessivos de seu Antônio deixavam sua mente confusa, e meio resmungando, perguntava para si mesmo: “-- Será verdade o que falam dessas assombrações?” Como estava ali por perto, resolveu tirar a dúvida que tanto lhe perturbava. Somente algumas estrelas cintilavam no céu... No mar, as luzes de dois navios que estavam fundeados no rumo da “C’ROA de PEDRAS”... Olhou para trás e viu a luzinha verde do “Farol” que piscava à distância... Apesar de ser verão, a noite estava muito fria, devido à brisa que vinha do mar. As folhas secas rolavam no chão e faziam aquele som, como se alguém o estivesse seguindo. Com a maior naturalidade, seu Antônio caminhava em direção ao maior e último desafio sobrenatural de sua vida. Seu Antônio resolveu não levar o apito para não fazer barulho. E com toda calma, tirou o *¹“abade de onça” do bolso, o tabaco que trazia em uma latinha com um furinho amarrada por um pedaço de punho de rede que pendurava na cintura. Enrolou um *²“porronca” e acendeu... Quando ia pegar a lanterna que estava pendurada no outro lado da cintura, a lanterna caiu... Seu Antônio já estava em frente da ‘famosa vila’. De repente, à sua frente surgiu àquela criatura sombria e assombrosa com mais de dois metros de altura e possuía uma capa preta que cobria todo o vulto. Seu Antônio permaneceu adormecido, não podia mover-se. Faltou-lhe o ar e a voz. Seus cabelos arrepiados da cabeça à ponta dos pés, seus olhos embaraçados em pânico. Chegou a pensar que havia chegado a hora de partir para a “Cidade do Pé Junto”. Sua perna ficou trêmula... “-- O porronca?”, dizia ele: “-- Não sei até hoje, onde foi parar a purra”.
Agora eram somente eles dois... Ele e aquela criatura inanimada, no meio da escuridão. Aquele Dito-cujo ficou ali à sua frente inerte como que esperando uma reação do vigia que dizia ser corajoso; porém, o mesmo permaneceu calado e perplexo. Então, o ser estranho se manifestou com uma voz rouca e grave e disse: “-- Faça um serviço! Mine a notícia!”

O guarda noturno, neste momento, sentia-se o mais infeliz de todos os homens e totalmente arrependido do dia que veio à luz. Tentando se refazer do susto, abaixou-se, e apalpando, conseguiu pegar a lanterna e tentou focar o rosto da indivíduo. Nisso, pela roupa da criatura, percebeu que se tratava de um vigário sem cabeça. Seu Antônio, com a voz muito trêmula e abafada replicou: “-- Diz o que tu qué alma penada”. “-- Tava pa mi cagá nessa hora sô!”, comentava seu Antônio toda vez que relatava a história.

Nisso, a criatura anunciou com uma voz como se vindo das profundezas do inferno:
-- Quero que digas para todos, que esta Praia nunca mudará de nome e sempre será chamada de “PRAIA DO BISPO”. Caso tu não espalhes a notícia, morrerás em sete dias. Se tu fizeres tudo certo, plantarei na praia uma árvore que terá forma de *³SOLIDÉU para que saibam que o que falaste é verdade.

Nessa hora, sem explicação, um vento norte muito forte soprou e a figura do BISPO foi levada e desapareceu nas trevas. O vigia caiu no chão hipnotizado, retornando a si somente às seis horas da manhã... Pois o sol já vinha raiando. Dali para frente seu Antônio aprendeu a lição e nunca mais quis ficar de frente com o sobrenatural. Espalhou a notícia na Vila toda. A última vez que viram seu Antônio foi entrando no navio Presidente Vargas que fazia a viagem Mosqueiro-Belém (Belém-Mosqueiro). E ainda lá, ele falava sobre o “causo”...
A cem metros da curva da Vila Faneca fica o “Terreno dos Padres”. Até hoje, religiosos fazem encontros espirituais nesse terreno que fica localizado na Beira-Mar, atrás dos dois reservatórios elevados do sistema de abastecimento de água na Praia do Bispo. Foi lá que viveu um sacerdote misterioso, provavelmente da congregação dos maristas, que, apesar de falar pouco, gostava de dar ordens... Ninguém nunca descobriu o nome dele; atendia somente pelo título de Bispo... Este beato adorava passear todas as tardes pela orla da praia fazendo preces próximo às pedras “o REI e a RAINHA”; essas pedras ficam nas proximidades da curva entre a praia Grande e a Praia do Bispo. Existem comentários que este religioso viveu uma paixão platônica. Dizem que, quando ele morreu, seus companheiros atenderam um “pedido”: fizeram seu sepultamento ilegítimo na praia, provavelmente onde tem uma árvore em forma de boina muito bem podada pela natureza.
Se você visitar a praia do Bispo, é verdade! Realmente existe essa árvore em forma de um Solidéu que permanece no tempo e sustenta a narração...
Até hoje, quando falta energia, pessoas afirmam ver o “Capa Preta” e outras marmotas “por aquelas bandas”.

-- Eu é que não duvido!!!!!!!! Como já dizia o finado “Caboquinho”, “todas as cruzes!”

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*¹ Abade: Papel bem fino que serve para enrolar o tabaco migado e fazer o cigarro.

*² Porronca: (Regionalismo) cigarro feito de fumo na palha.

*³ Solidéu: Pequena boina usada pelos clérigos católicos e pelos judeus, significando o temor a Deus, que estaria acima de tudo.

 

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FONTE: https://www.facebook.com/mosqueiro.virgula/posts/1423554747897916

CANTANDO NA ILHA: CÚMBIA DA BARATINHA RECICLADA

segunda-feira, 21 de abril de 2014

A IMAGEM E O TEMPO: HOTEL CHAPÉU VIRADO

 

 No início era uma humilde pousada em madeira construída num dos lugares mais aprazíveis da Ilha, com o nome de Balneário Hotel Chapéu Virado, sob a administração do francês Monsieur Pinet.

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Fachada do antigo Balneário Hotel Chapéu Virado ainda em madeira (Fonte: Blog Haroldo Baleixe).

Foi administrado depois pela firma Ferreira Gomes Cia. e pelo Sr. Manuel Tuñas, um especialista em hotelaria. O casal português Manoel Maria Fernandes Tavares e Dona Glória Marques Tavares adquiriu-o no ano de 1936. Em 1939, a gerência do hotel ficou nas mãos de sua filha Dona Carolina e de seu genro, o português Antônio Joaquim Ferreira (o Russo). Daí o motivo pelo qual muitos chamavam o hotel de Hotel do Russo (o mais adequado seria Ruço, já que o apelido teve origem na cor dos cabelos do Seu Joaquim). Pouco tempo depois, o primitivo prédio em madeira seria destruído por um incêndio e seus proprietários reconstruíram o hotel em alvenaria, com a ajuda financeira do prefeito Abelardo Conduru e do governador Magalhães Barata.

No site Fragmentos de Belém, fomos encontrar a propaganda do Hotel Chapéu Virado publicada no Guia Turístico de Pará de 1970:

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Hotel Chapéu Virado / Guia Turístico do Pará (c. 1970)

FONTE: http://fragmentosdebelem.tumblr.com/page/20

“E eles vinham, gente ruidosa, elegante, feliz, antegozando o fim-de-semana no convívio da família e dos amigos, sentindo a magia da Ilha na fartura do verde e das águas, no beijo ardente do sol ou no aconchego do luar. Alguns se dirigiam a seus chalés, vivendas e retiros; outros buscavam hospedagem no Hotel Chapéu Virado, o famoso Hotel do Russo, prédio que ainda existe, porém como um condomínio de apartamentos.”

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http://mosqueirando.blogspot.com.br/2010/04/ilha-do-mosqueiro-na-rota-da-historia.html

terça-feira, 15 de abril de 2014

JANELAS DO TEMPO: TEATRO PAROQUIAL DA VILA DO MOSQUEIRO

 

Segundo o historiador Augusto Meira Filho, o Teatro Paroquial da Vila do Mosqueiro foi criado na década de 1940:

“Na Paróquia do Mosqueiro, tiveram laboriosa missão religiosa os padres alemães Carlos Franik e Eurico Frank, que implantaram o Teatro Paroquial da Vila e todos os anos encenavam, religiosamente, o Drama da Paixão, no correr da Semana Santa e as Pastorinhas, na época das festas de São João.”

“Quem nos deu esses dados foi o professor Acy de Barros Pereira. Seu pai Anesino de Barros Pereira dirigiu muitos anos a enfermaria do Posto Médico da Vila. Nesse tempo Acy tinha dois anos (1935) e ali permaneceu até 1946, cursando o Grupo Escolar do Mosqueiro, concluindo-o em 1945. Foi aluno das Mestras Camila Monte, Cleide Tobias, Cleide Bentes Cardoso e Professora Moita. Funcionou no Teatro Paroquial e nas Pastorinhas.”

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- p. 404.

Em sua origem, o Teatro Paroquial da Vila do Mosqueiro tinha como diretor o mosqueirense Alberto Bastos, que viria a tornar-se um dos grandes atores do teatro paraense e que, em 1954, criaria, na Ilha, o grupo intitulado Teatro Experimental do Mosqueiro. Contando com o apoio do experiente ator Cláudio Barradas, Alberto Bastos dirigiria o Drama da Paixão por diversas vezes e, de forma brilhante, interpretaria o papel de Cristo em algumas ocasiões. Porém, foi uma mulher que pela primeira vez interpretou Jesus no teatro mosqueirense: Maria Emília Moreira (Mariazinha). Além de Alberto Bastos e Mariazinha, vários atores viveram o papel de Cristo, entre os quais citamos Raimundo Paixão, Ariosvaldo Ferreira, Claudionor Wanzeller, Sebastião Ferreira e Custódio Félix.

O Drama da Paixão, as Pastorinhas e as apresentações de pássaros juninos incentivadas por Alberto Bastos atraíam sempre uma numerosa e eufórica plateia ao Teatro Paroquial. Algumas peças, entretanto, foram marcantes nos bons e velhos tempos do teatro do Mosqueiro: O Jardim Encantado, que culminou com a injusta prisão dos padres alemães na época da guerra; Os Pequenos Mártires, em que os jovens atores Raimundo Paixão e Eliziomar Sodré emocionaram o público; O Julgamento de Jesus e Judas em Sábado de Aleluia.

FONTE: Pesquisa de campo.

PESQUISE NESTE BLOG:

http://mosqueirando.blogspot.com.br/2013/01/janelas-do-tempo-o-ator-mosqueirense.html

http://www.mosqueirando.blogspot.com.br/2010/09/janelas-do-tempo-o-jardim-da-discordia.html

 

A IMAGEM E O TEMPO: ECLIPSE LUNAR 2014 VISTO DA ILHA

 

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sábado, 12 de abril de 2014

CURIOSIDADES: O MARACAJÁ E SUAS RUAS


Um dos mais populosos bairros da Ilha, o Maracajá surgiu nos primórdios do século XX, como expansão natural da Vila do Mosqueiro para o interior motivada pela necessidade de ocupação habitacional. A área onde o bairro começou era conhecida como Umarizal, evidentemente uma referência à grande quantidade do fruto comestível umari. Esse nome ainda era lembrado na década de 70 pela existência de uma casa comercial assim chamada, em cujo local seria construída, mais tarde, a quadra de esportes da Escola Honorato Filgueiras.
Sua atual denominação, que também designa a principal artéria do bairro (Travessa Maracajá), originou-se de um felino muito comum naquela área da Ilha; recoberta, na época, por densa mata: o gato maracajá.
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“O gato-maracajá (Leopardus wiedii) é um felino nativo da América Central e América do Sul. Tem como característica uma cauda mais longa do que seus membros posteriores.
Os pêlos são amarelo-escuros nas partes superiores e na parte externa dos membros. Tem manchas sob a forma de rosetas com uma região central amarela, por todo o corpo, da cabeça à cauda.
Dentro de suas habilidades, o gato-maracajá pode caminhar nas pontas dos galhos dos arbustos. Ele também possui grande capacidade de salto e suas garras são proporcionalmente mais longas do que as da jaguatirica. O período de gestação é de 81 a 84 dias, e a expectativa de vida é de cerca de 13 anos.
Tem capacidade de virar em 180 graus as articulações do tornozelo, o que o possibilita transitar com facilidade entre troncos e árvores. Seus hábitos são noturnos e alimenta-se de pequenos roedores e aves, que caça nas árvores.
No Brasil, o gato-maracajá pode ser encontrado com mais frequência na Floresta Amazônica” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Gato-maracaj%C3%A1).

O bairro do Maracajá limita-se a oeste pela Rua Padre Manuel Raiol (5ª. Rua), ao norte pelo prolongamento da Travessa Pratiquara, a leste pelo Parque Ambiental da Ilha do Mosqueiro e rio Pratiquara e ao sul pela baía de Santo Antônio. Além da área urbanizada, existe ainda uma grande faixa de terra firme e, margeando o rio Pratiquara e a baía de Santo Antônio, encontra-se uma extensa mata ciliar onde predominam espécies de mangue, o que demonstra a necessidade de sua preservação, por ser uma das áreas mais frágeis da Ilha.
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Bairro do Maracajá (Google Earth)
Paralelas ao rio Pará e seguindo o sentido oeste-leste, foram surgindo as ruas Francisco Xavier Cardoso (6ª. Rua), homenageando renomado farmacêutico dos velhos tempos da Ilha e compositor do Hino do Mosqueiro; Francisco Xavier da Veiga Cabral (7ª. Rua), lembrando o Cabralzinho, o Bravo do Amapá, um dos heróis brasileiros na Guerra do Paraguai; João Tocantins Pena (8ª. Rua), recordando o nome do fazendeiro marajoara que foi o proprietário do primeiro Matadouro de gado bovino da Ilha do Mosqueiro; e Rua Tiradentes (9ª. Rua), homenagem ao Mártir da Independência.
Perpendiculares ao rio, estão a Travessa Pratiquara (lugar de peixe miúdo), lembrando o rio de mesmo nome; a Travessa Siqueira Mendes (a mais movimentada), para homenagear o Cônego que transformou a Ilha em Freguesia do Mosqueiro; a Travessa Maracajá (a mais importante do bairro).
Entre as Passagens, destaca-se a Passagem Padre Eduardo, homenagem ao Padre Edward James Hasker, pároco da Ilha que faleceu em acidente automobilístico e está sepultado na Igreja Matriz.
PESQUISE NESTE BLOG:
http://mosqueirando.blogspot.com.br/2012/03/na-rota-da-historia-padre-manuel.html
http://mosqueirando.blogspot.com.br/2013/12/janelas-do-tempo-siqueira-mendes.html
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quinta-feira, 10 de abril de 2014

MEIO AMBIENTE: ILHA DE MOSQUEIRO NA MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO DO PARÁ.

 

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A “MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO DO PARÁ” é um excelente texto sobre o processo de desenvolvimento da agricultura no estado do Pará.

O estudo em tela registra de forma contributiva a  participação da Ilha de Mosqueiro, distrito do município de Belém, para o setor e as perspectivas no horizonte de política econômica para o mesmo e para as experiências em curso em várias áreas da agricultura paraense.

Para os autores, diante do processo de desenvolvimento econômico do estado:

“a contribuição da agropecuária continua pequena, visto que suas exportações são lideradas, com folga pelo segmento extrativo mineral e madeireiro. Assim a agricultura deixa de dar importante contribuição na geração da riqueza e na distribuição da renda para uma população em crescimento, e também na preservação ambiental”.

O texto aqui publicado é parte integral de “MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO DO PARÁ” no que tange a uma experiência empreendedora na criação de patos *raça Paysandu” na Ilha de Mosqueiro, Belém/PA.

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Ilha de Mosqueiro na

MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO DO PARÁ

A necessidade de adubo orgânico para uso na cultura da pimenteira-do-reino fez surgir uma incipiente avicultura para atender essa demanda. Sua racionalização deveu-se  ao Projeto Avicultura, da SAGRI, que instalou uma central de incubação para  fornecimento de pintos-de-um-dia, e uma fábrica de ração em convênio com a  United  States Agency for International Development (USAID),  organismo norte-americano de  promoção ao desenvolvimento (SAGRI, 1974).

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Esse projeto venceu inicialmente a grande dúvida que pairava na implantação da  avicultura na segunda metade dos anos 1960. Esta dizia respeito ao aspecto sanitário, ou  seja, a  possibilidade da produção de frango de corte num clima quente e  úmido,  condições propícias a proliferação da doença crônica respiratória (DRC), sigla em inglês, quando  não havia vacina para preveni-la,  e da coccidiose quando o arsenal  medicamentoso para controlá-la era bem aquém do atual. 

Sem que os problemas sanitários  –  DCR e coccidiose  –  inviabilizassem a  implantação da avicultura industrial no clima tropical úmido, o crescimento da nascente  avicultura ocorreu em função da demanda da região Metropolitana  de Belém e do  Nordeste paraense até então atendidas por importações. Saturados estes mercados faziam-se necessárias políticas e ações que possibilitassem a produção de componentes da ração no Estado, a verticalização do setor e a conquista de novos mercados.

Uma  ação  nesse sentido foi induzida pela SAGRI em 1994, ocasião em que coordenou o Projeto Elo lançado em Altamira, no mês de outubro, numa parceria entre o Governo do Estado, a Associação de Avicultura do Pará (APA) Banco do Brasil e Banco da Amazônia,  com o objetivo de produzir milho nos solos eutróficos dos municípios da rodovia Transamazônica, que seria comprado sob contrato pelos avicultores paraenses, coordenado pela APA. Este programa além de beneficiar a avicultura, seria um incentivo à produção de milho e soja, no Estado.

Com a mudança do Governo do Estado corrida em janeiro de 1995, o Projeto Elo  não foi executado. Hoje, a avicultura paraense se mantém estacionada e o município de Santa Isabel, seu polo irradiador, contabiliza as perdas no seu crescimento econômico,  enquanto o Estado perdeu a oportunidade de se tornar um exportador de produtos  avícolas pautado em agroindústrias e uma forte cadeia produtiva. Corroborando com essa  situação, a baixa produção de milho no Estado contribui para inibir a expansão da avicultura.

Outro evento importante para a avicultura paraense é a formação da raça de pato  Paysandu. Trata-se de trabalho de pesquisa desenvolvido por 15 anos, desde 1990, pelo  engenheiro agrônomo Rubens Rodrigues Lima e seu neto, o médico veterinário Rubens  Rodrigues Lima Neto, em sua propriedade, fazenda Paysandu, na  ilha  de Mosqueiro,  município de Belém-PA.

O trabalho consistiu no cruzamento de linhagens de pato regional com  procedências  da Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, hoje Universidade Rural da  Amazônia, da Baixada Maranhense e da ilha do Marajó. O  resultado foi a raça de pato  regional  Paysandu, com composição genética (graus de sangue) de 5/8 e 3/8  respectivamente dos ancestrais trabalhados.  São disponibilizadas três linhagens caracterizadas pelas cores branca, cinza e preta que aos três meses de idade pesam  4,1Kg, 4,4kg, 4,6kg, respectivamente. Também integra a pesquisa o melhoramento dessas  linhagens para a produção de ovos com o objetivo de disponibilizá-los para a reprodução  dessas linhagens (Lima & Lima Neto, 2006).

Após todo esse nobre esforço para a obtenção desta raça de pato regional surge  uma indagação. Porque o pato Paysandu não se consolida no mercado local, enquanto o consumo crescente de pato, ave apreciada pela culinária local, depende cada vez mais da importação, sobretudo de Santa Catarina. Duas hipóteses são levantadas. A primeira diz respeito à falta de apoio do  Estado no fomento dessa iniciativa, embora tenha  sido procurado para tal  pelos responsáveis pela criação dessa raça de pato.  A segunda é quanto à própria especificidade do mercado local ao concentrar o consumo do pato na festa do Círio de N. Srª. de Nazaré, o que dificulta a produção em escala, levando-se em consideração as condições econômicas e financeiras do produtor regional, e a falta de uma cadeia de produção capaz de buscar mercados externos.

Na propriedade, que fica em Mosqueiro, um distrito de Belém, são criados patos da raça Paysandu, fruto de vários cruzamentos, inclusive com patos selvagens.

“Ele tem a característica de ter a carne bem escura e mais dura que o normal de marreco de pequim. O paraense aceita só esse tipo carne”, disse o criador Rubens Rodrigues Lima Neto.

Zoonews Receitas - Forno e Fogão

http://www.zoonews.com.br/noticias2/noticia.php?idnoticia=158786

Globo Rural

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Fonte:

Francisco Benedito da Costa Barbosa & Ítalo Claudio Falesi. MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO DO PARÁ. INSTITUTO DE PESQUISA APLICADA EM DESENVOLVIMENECONÔMICO SUSTENTÁVEL – IPADES. BELÉM/PA, 2011 

Disponível em :http://www.ipades.com.br/publicacoes/MODERNIZACAO-DA-AGRICULTURA-DESENVOLVIMENTO-DO-PARA.pdf. Acesso em: 27 fev.2014

FONTE:http://mosqueiroambiental.blogspot.com.br/2014/03/ilha-de-mosqueiro-na-modernizacao-da.html

segunda-feira, 7 de abril de 2014

A IMAGEM E O TEMPO: BOITE MATAPI

 

No final dos anos 60 e início da década de 70, a BOITE MATAPI era um dos points de divertimento noturno do Mosqueiro. Localizada no bairro do Ariramba, reunia, em noitadas memoráveis, a juventude que frequentava a Ilha nos fins de semana e férias escolares.

O nome da boite é alusivo ao matapi, armadilha de origem indígena utilizada pelos pescadores na captura do camarão de água doce da Amazônia, muito consumido e apreciado pelos mosqueirenses. Essa armadilha é feita de forma artesanal com talas retiradas do buriti, uma espécie de palmácea de cujo fruto se extrai óleo e suco; também chamado miriti. A boite se foi na voragem do tempo, mas o matapi continua sendo usado pelos pescadores da Ilha.

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Matapi, armadilha de origem indígena para a captura do camarão.

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Camarão de água doce (Foto: José Carlos Santos)

No site Fragmentos de Belém, encontramos esta rara imagem da antiga boite:

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Boite Matapi, Ariramba, Mosqueiro / Guia Turístico do Pará (c. 1970)

FONTE: http://fragmentosdebelem.tumblr.com/page/23

sexta-feira, 4 de abril de 2014

CURIOSIDADES: SERIA BELÉM TRANSPLANTADA PARA A ILHA DO MOSQUEIRO?

 

Você já se perguntou alguma vez por que a cidade de Belém do Pará não foi fundada na Ilha do Mosqueiro?

Adentrando a foz do grande rio, os navios de Francisco Caldeira Castelo Branco depararam-se com a costa norte da Ilha do Mosqueiro, banhada pela baía do Sol, região que impressionou os navegadores portugueses, conforme relata o Prof. Eduardo Brandão na revista Ilhas amazônicas (p. 9):

“Dando prosseguimento a sua viagem, os navegadores atravessaram a baía do Sol e a ilha de mesmo nome, hoje conhecida como ilha de Colares. Em relato feito para o rei D. João V pelo funcionário da Coroa Bernardo Pereira Berredo, neste momento, deparam-se com uma região considerada o lugar mais apropriado para a conquista e povoação e “um dos mais agradáveis lugares desta Costa para fundar uma cidade” segundo o padre José de Morais, que acrescenta em seguida “a não serem seus mares tão inquietos que faziam dificultoso o desembarque das naus do reino e embarcações da terra, por ser açoutada toda aquela Costa das grandes maresias da tarde, algumas vezes com trovoadas”.”

As palavras do padre José de Morais esclarecem por que o local não foi escolhido para a fundação da cidade. Entretanto, vinte e um anos depois, cogitaram em transplantar o núcleo urbano de Belém para a Baía do Sol, segundo pesquisa de Antonio Rocha Penteado, em seu livro BELÉM – Estudo de Geografia Urbana (pp. 108 e 109):

O comércio de Belém, nas suas relações com a Europa, era bastante precário; em 1694, faltava quase tudo, “até vinho para as missas” e a cidade era “mal provida de peixe por não haverem pescadores brancos e (serem) os índios geralmente preguiçosos...

Não é de admirar, portanto, que neste século XVII, tivesse havido duas tentativas para mudar a localização da cidade. A primeira ocorreu em 1633, quando o chefe das Forças da Capitania do Pará, Feliciano Coelho de Carvalho, recebeu a missão de transplantá-la para um novo sítio na baía do Sol, o que não fez “diante do embaraço clamoroso de seus habitantes, os quais não considerando receptíveis as razões de ser a cidade uma infante povoação e composta de domicílios pouco estimáveis e mal situada, refugam, positivamente, dar prasme ao projeto”.

A segunda tentativa foi levá-la para Marajó, onde se acha a aldeia de Joanes; data de 1655 e foi proposta por Vidal de Negreiros ao Rei de Portugal, encontrando “forte oposição do povo e do comércio”.

A resistência denodada dos “belemitas” a essas investidas asseguraram o enraizamento da cidade ao sítio que escolhera; a concessão feita aos seus habitantes de “privilégios iguais aos cidadãos do Porto, em paga pela campanha desenvolvida contra o holandês no Maranhão”, surtia seus efeitos e Belém iniciou o século seguinte dando as costas ao berço em que nascera, lançando-se, decididamente, pela “Campina”.”

terça-feira, 1 de abril de 2014

MEIO AMBIENTE: FECUNDIDADE E FERTILIDADE DO CAMARÃO-DA-AMAZÔNIA

 

Fecundidade e fertilidade do camarão-da-Amazônia, Macrobrachium amazonicum (Heller, 1862) (Decapoda: Palaemonidae) em dois ambientes estuarinos do estado do Pará

 

Autor principal: ROCHA, Cristina Pantoja

Outros autores: MELO. Nuno Filipe Alves Correia de

Formato: Tesis de Maestria

Idioma: Português

Publicado: Universidade Federal do Pará – UFPA 2010

Matérias: Camarão de água doce

Macrobrachium amazonicum

Fertilidade

Ilha de Mosqueiro – PA

Vigia de Nazaré – PA

Pará – Estado

Amazônia Brasileira

O Macrobrachium amazonicum é o camarão de água doce com ampla exploração pesqueira na região amazônica, em virtude da abundância e boa aceitação no mercado consumidor. O objetivo deste estudo foi caracterizar a fecundidade e fertilidade de M. amazonicum em dois ambientes estuarinos no Estado do Pará. De forma que foram realizadas coletas mensais no período de setembro de 2008 a agosto de 2009, nos município de Vigia e Belém na Ilha de Mosqueiro, as fêmeas foram até o Laboratório de Ecologia Aquática e Aqüicultura Tropical - LECAT no campus da Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA, em Belém. Para a determinação da fecundidade foram colecionadas mensalmente em média 30 fêmeas ovígeras de cada ponto de coleta, os ovos aderidos aos pleópodes foram retirados, utilizando hipoclorito de sódio como 2% de cloro ativo e estocado em álcool 70%. A fecundidade individual foi determinada a partir da contagem total dos ovos. Para a determinação do volume dos ovos foram selecionados de cada local de coleta, aleatoriamente, 50% do número total de fêmeas ovígeras destinadas a fecundidade, seguindo dois grupos: ovos pigmentados e não-pigmentados. Para determinar a fertilidade, as fêmeas ovígeras de M. amazonicum foram estocadas individualmente em aquários de vidro de 2L. Após a eclosão, as larvas foram sifonadas e contadas. Para todas as fêmeas foi aferido o peso de cada exemplar e avaliada sua biometria com o auxílio de um paquímetro de precisão. As fêmeas de M. amazonicum oriundas do Município de Vigia tiveram comprimento absoluto entre 4,8 e 9,3 cm e peso entre 2,21 e 11,81g, com fecundidade absoluta entre 38 e 5.749 ovos (2.296 ± 1.288 ovos). Para as fêmeas de Belém, provenientes da ilha de Mosqueiro, o comprimento variou entre 3,71 e 8,14 cm, o peso entre 1,27 e 11,2g, com fecundidade absoluta variando de 123 e 7.571, com média de 1.448 ± 990 ovos. O volume de ovos para as fêmeas obtidas no Município de Vigia, referente aos ovos não-pigmentados, apresentou volume médio de 141,37mm³, enquanto que para ovos pigmentados o volume foi de 116,13mm³. As fêmeas provenientes da Ilha de Mosqueiro, com ovos não-pigmentados apresentaram volume médio de 118,97mm³ e ovos pigmentados o volume médio calculado foi de 144,61mm³. A análise da fertilidade para as fêmeas do município de Vigia apresentou comprimento entre 5,41 e 9,72 cm e peso entre 2,51 e 9,60g, a fertilidade absoluta foi 14 e 4.430 larvas, com média de 1.152 ± 822 larvas por fêmea. As da ilha de Mosqueiro apresentaram comprimento entre 3,53 e 7,67 cm e peso entre 1,12 e 8,77 g com fertilidade absoluta entre 7 e 4.121 e média de 755 ± 871 larvas por fêmea. Os valores referentes a fertilidade e fecundidade para os município de Vigia e Belém - Ilha de Mosqueiro indicam que há proporcionalidade entre as variáveis de comprimento e peso. Apesar de apresentar fecundidade e fertilidade menor que os valores reprodutivos apresentados para outras espécies de interesse comercial, os valores aqui mostrados evidenciam que nestes dois locais a espécie pode fornecer matrizes potenciais para aquicultura.

FONTE: http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/4702