quarta-feira, 7 de maio de 2014

A ILHA CONTA SEUS CAUSOS: O PRETINHO DO PORTO

 

Autoria: Mosqueiro Vírgula

Entre as praias do Porto Arthur e o Murubira, existe uma praiazinha que, algumas décadas atrás, pescadores ancoravam canoas e faziam cabanas para passar a noite esperando a hora da maré. Neste local, havia muitas árvores de mangue e um enorme lago que as pessoas faziam tapagem, tarrafeavam e colocavam ¹matapi para prender o camarão, que servia de alimento para muitas famílias. A comunidade e os pescadores na época chamavam “CORVÃO” para aquela paragem...

Hoje, a ideia é crescer sem destruir o meio ambiente e sem esgotar os recursos naturais para as futuras gerações... Na história vermos que isso foi diferente.

PRETINHO, foi esse o apelido que recebeu o filho da Dona Benedita, natural do estado do Maranhão, que trabalhava de lavadeira da tradicional família do Sr. Arthur Pires Teixeira, nome que deu origem ao Bairro Porto Arthur, Terminal Rodoviário de Mosqueiro, Prédio Porto Arthur e a Rua Pires Teixeira, onde fica a capela Savina Petrilli, em terreno doado pela família Pires Teixeira.

O Bairro do Porto Arthur faz fronteira com os bairros do Chapéu Virado, Murubira e Natal do Murubira.

Num acervo resumido da nossa história, os primeiros transportes de Mosqueiro, como carros puxados a boi, ônibus, e até uma locomotiva apelidada de “Pata Choca”, faziam linha Vila/Porto Arthur/Vila. Infelizmente, os registros históricos são insuetos e fazem a nossa bibliografia empobrecida.

Era o Negrinho mais lindo que você possa imaginar, tinha de sete para oito anos, pele limpa e sedosa, nariz afilado, olhos tão negros que eram quase azulados e os dentes tão alvos que, ao sorrir, seus caninos brilhavam como ouro. Não havia quem não gostasse daquele menino, estava sempre pronto para qualquer mandado... Sapeca assim; como qualquer criança que goza de saúde é feliz... Toda tardezinha quando as sabiás começavam a cantar nas palmeiras dos açaizeiros e o sol ia se pôr por trás da ILHA do AMOR, o PRETINHO pegava a varinha bordada feita de bambu e dizia: “-- Bence mãe!” Dona Benedita sempre dizia: “-- Menino, menino, cuidado meu filho, isso não é hora de brincar na praia, qualquer dia o tralhoto te encanta. Lembra do Miguer?”, “-- Deus bençoe!”. E o negrinho sai correndo na direção da praia do Corvão. Como se bailasse em êxtase, sempre sorrindo, corria atrás dos tralhotos que ficavam descansando na areia à espera dos marouços... Todo dia, corria atrás daqueles peixinhos, todo dia, e isso virou costume...
Naquela manhã, o menino estava mais feliz. Fez os mandados com um sorriso que só um inocente pode ter. Chegou a tardezinha.

Nessa tarde, por coincidência as sabiás não fizeram sinfonia, dona Benedita, abençoou, abraçou e beijou o menino como NÃO fazia de costume e virou-se para tempo... e não viu o Pretinho sair... Foi triste! O menino não voltou nunca mais... Coração de Mãe não se engana! Dona Benedita sabia que o havia perdido. Mesmo assim, sensibilizou a todos e por dias e meses passou procurando o seu único filho e nada. Ninguém viu! Passando-se nove meses, dona Benedita, com o coração apertado, desistiu das buscas; pediu as contas e voltou para o Maranhão sem seu filhinho Raimundo.

Passaram-se três décadas...

“Confesso-lhes que já senti vontade de perguntá-lo... Talvez já o tenha esquecido.” Até hoje, não sabemos o motivo pelo qual o Agente Distrital de Mosqueiro, na ocasião o Sr. J. I., resolveu destruir parte da natureza e introduziu um trator na praia revirando árvores e devastou com o lago do Corvão. Sem dúvidas, um grande choque para a comunidade da época, pois muitas famílias tiravam seus sustentos daquele lago que ficava ali, deitado em berço esplêndido...

Depois que o lago foi destruído, o Negrinho com o sorriso luminoso começou a aparecer para várias pessoas, principalmente para os pescadores e visitou muitas casas que ficam ali na orla... Sempre que alguém chamava por ele, ele desaparecia... Certo dia, o pescador Anselmo, estava distraído, amarrando a canoa, e o Negrinho, com aquele sorriso encantador... Chamou o escolhido “-- Venha, tenho um presente para você, vou lhe dar esse pequeno tesouro”. O pescador, sem entender o que estava acontecendo, seguiu o menino. O Negrinho apontando para uma urna de madeira semi-enterrada próximo a um barranco, disse: “-- É sua!” E prosseguiu: “-- Estou indo embora daqui, perdi meu doce lar, vou morar lá na C’ROA e agora só vou ter a permissão de aparecer uma vez em cada mês, continuo fazendo tolices. Quando quiser me ver é só ir lá na C’ROA DE PEDRAS em noite de lua cheia”. Deu uma pequena pausa, baixou a cabeça e algumas lágrimas caíram... seguiu falando: “-- Sei que minha mãe ainda vive; se puder, diga que a amo” Falou o que queria e desapareceu... O pescador ficou todo arrepiado e mesmo assim tratou de desenterrar e carregou a caixa... Dizem até hoje que Anselmo se tornou dono de uma grande fortuna e desapareceu da Ilha alguns dias depois...
Pescadores juram que é “vero”, que o Negrinho realmente aparece na C’roa de Pedras em noite de lua cheia.

Apenas uma lagoa rasa marca os vestígios que outra hora foi chamado; poucos pescadores ainda aportam canoas naquela parte da praia...
Se você é curioso, visite a C’roa de Pedras de preferência em noite de lua cheia. Quem sabe você reconhece através do “CAUSO” o famoso sorriso do “PRETINHO DO PORTO”.

A C’roa de Pedras fica cerca de 150 metros da orla em frente das praias do Porto Arthur e Murubira.

¹matapi: Armadilha feita de tala e cipó em forma de cubo.

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FONTE:https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=1428734267379964&id=100007302125955

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