quinta-feira, 30 de agosto de 2012

MEIO AMBIENTE: EXEMPLARES DE ESPÉCIES NA ILHA AMAZÔNICA DE MOSQUEIRO

Autor da Pesquisa: Pedro Leão

O Brasil, com aproximadamente um terço das florestas tropicais remanescentes do mundo, é um dos mais importantes repositórios da biodiversidade mundial. Porém, o impacto das ações antrópicas sobre os ambientes tem feito com que importantes ecossistemas sejam descaracterizados sem que se tenha conhecimento da sua estrutura fitossociológica e composição florística das espécies nos diferentes ambientes.

           A cobertura vegetal natural da ilha amazônica de Mosqueiro é constituída predominantemente por floresta ombrófila densa (pluvial tropical). Compõe-se, mais especificamente, de floresta de terra firme densa, floresta de terra firme aberta, floresta de várzea, floresta de igapó e manguezal. Destacaram ainda a presença de floresta secundária ou “capoeira” que em 1995 já ocupava aproximadamente 24 % da área total da ilha.

           Mosqueiro é caracterizada por extensos remanescentes de floresta natural, possibilitando a ocorrência de uma diversidade de espécies florestais, que na atualidade estão cada vez mais expostas a inúmeras ações antrópicas, como desmatamento para feitura de carvão e para exploração mineral,  muito embora consideráveis áreas com a vegetação natural ainda [estejam] pouco alterada, o que se deve, principalmente, ao fato de nela haver muitos igarapés e três grandes rios localizados ao sul de seu território, constituindo ambientes de difícil exploração imobiliária.

              Jeferson Miranda & Costa e Marcio Roberto Pietrobom (2007) em pesquisa de campo, concluíram que “dentre as áreas inventariadas da Região Metropolitana de Belém, a Ilha de Mosqueiro foi a que apresentou a pteridoflora (samambaias e plantas afins) mais rica, o que ressalta a importância dos remanescentes florestais situados em seu território”.

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Exemplares de Pteridófitas: salpichlaena hookeriana e selaginella willdenowii (Samambaia azul)

                Na ilha amazônica de Mosqueiro, duas áreas de proteção ambiental (APA’s), se configuram: O Parque Ambiental da Ilha de Mosqueiro e a Estação Ecológica do Furo das Marinhas.

             Dentre as comunidades do Parque Ambiental da Ilha de Mosqueiro destacam-se as localizadas nas margens do Rio Murubira, Tamanduaquara, Pratiquara e comunidade do Espírito Santo, Caruaru, Tucumandeua, Itapiapanema, Castanhal do Mari-Mari e Tabatinga ou Cantuário.

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Floresta de terra firme densa e floresta de terra firme aberta

              As florestas de terra firme ocupam terras não inundáveis. São recentes, originadas da sedimentação da bacia amazônica no período terciário. Caracterizam-se pelo grande porte das árvores e formação de dossel, isto é, uma compacta e permanente cobertura formada pelas copas das árvores. As florestas de terra firme dividem-se em florestas densas, as mais diversas e com maior quantidade de madeira, e floresta abertas, mais próximas dos escudos e depressões e que sustentam maior biomassa animal. Neste ambiente da ilha temos a Castanha-Do-Pará (Bertholletia excelsa H.B.K.), maçaranduba (Persea pyrifolia), acapu (Vouacapoua americana Aubl.) e Figueira ou Ipê amarela (mata-paus)(Tabebuia serratifolia (Vahl) Nich.), dentre outras espécies.

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Castanha-do-pará (Bertholletia excelsa H.B.K.)

Floresta de várzea

                As matas de várzea são as que sofrem com inundações em determinados períodos do ano. Na parte mais elevada desse tipo de mata, o tempo de inundação é curto e a vegetação é parecida com a das matas de terra firme. Nas regiões planas, que permanecem inundadas por mais tempo, a vegetação é semelhante a das matas de igapó. Dentre as espécies são destaque a andiroba (Carapa guianesis Aubi), a sumaúma (Ceiba pentandra (L.) Gaertn e o açaí (Euterpe oleracea Mart.)).

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Sumaúma (Ceiba pentandra (L.) Gaertn

Floresta de igapó

               As árvores atingem até vinte metros de altura, com a maioria entre quatro e cinco metros. As espécies vegetais aqui encontradas são adaptadas a terrenos alagadiços. Nelas são ocorrentes os cipós e as epífitas. Suas plantas, de menor porte, são hidrófilas (adaptadas a regiões alagadas), possuindo como espécies comuns as orquídeas, as bromélias e outras. As árvores mais típicas são o tachi (Tachigalia paniculata Aubl.), o buriti (Mauritia flexuosa L.), o Caranã (Copernida cerífera) e a mamorana (Paquira aquatica Aubl.).

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Buriti (Mauritia flexuosa L.)

Manguezal

                Os manguezais desenvolvem-se sobre sedimentos lodosos, sendo constituídos por espécies adaptadas ao baixo teor de oxigênio e às variações de salinidade decorrentes da ação de marés. A vegetação caracteriza-se pela presença de poucas espécies lenhosas com numerosos indivíduos.

                  Outros tipos de vegetação característica de áreas com influência salina estão presentes nos mangues mosqueirense. Suas espécies principais são: tamanqueiro (Tagara rhoifolia), mangue vermelho (Rhizophora mangle), siriúba (Avicenia nítida), mangerona (Conocarpus erecta) e a mague-rama (Laguncularia racemosa).

                Para a fixação em um solo lamoso, o mangue-vermelho (Rhizophora mangle) possui raízes escoras ou rizóforos. Essas estruturas formam arcos saindo do caule principal, o que permite a sustentação da planta.

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 Vegetação de mangue no Carananduba

Floresta secundária, capoeira ou capoeirão.

             As florestas secundárias são aquelas resultantes de um processo natural de regeneração da vegetação, em áreas onde no passado houve corte raso da floresta primária para uso de pasto ou agricultura. Também são consideradas secundárias as florestas muito descaracterizadas por exploração madeireira irracional ou por causas naturais, mesmo que nunca tenha havido corte raso e que ainda ocorram árvores remanescentes da vegetação primária.

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Bacurizeiro (platonia insignis Mart.)

              Dentre as espécies com ocorrência   neste tipo de floresta estão o bacurizeiro (platonia insignis Mart.), tachi-branco (Sclerolobium paniculatum Vogel), matamatá branco (Eschweilera coriacea), Jarana (Holopyxidium jarana ( Hub. ) Ducke), mandioqueira lisa (Qualea albiflora), além de Ingá diversos  (Inga sp). Como exemplo de cipós temos a escada de jabuti (Bauhinia guianensis, Caesalpiniaceae).

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Escada de jabuti (Bauhinia guianensis, Caesalpiniaceae)

                    Diante do intenso processo de devastação das florestas brasileiras que vem tomando proporções alarmantes em todos os biomas, a conservação das espécies florestais da ilha amazônica de Mosqueiro deve ser objeto de medidas governamentais urgentes pensando-se nas gerações presente e futura.

              A exploração das florestas se inicia, invariavelmente, com a extração das árvores de maior vigor e de melhor qualidade, deixando-se apenas as de qualidade inferior para transmitir seus genes às próximas gerações, num processo disgênico que leva à degradação dos remanescentes. Além disso, as formações florestais vêm sendo reduzidas a fragmentos cada vez menores e mais dispersos em meio às áreas antropizadas.

Fontes:

http://www.cdpara.pa.gov.br/index.php

Floristic composition and phytosociology of tree species in the Phenological Site of the Embrapa Western Amazonia. In: http://www.scielo.br/

Jeferson Miranda Costa & Marcio Roberto Pietrobom: Pteridófitas (Lycophyta e Monilophyta) da Ilha de Mosqueiro, município de Belém, estado do Pará, Brasil,2007. In: http://www.scielo.br/

www.ipaam.br/amazonas-corpo5.html

flickrhivemind.net

gardenbreizh.org

nemetonsamauma.blogspot.com/

http://www.flickr.com/photos/naiarabalderramas/page11/

www.cnpf.embrapa.br/publica/pfb-revista.../pfb.../PFB54_p7-35.pdf

http://www.lurvely.com/photo/4005001862/Selaginella_willdenowii/

http://plantamundo-novedades.blogspot.com.br/

http://www.flickr.com/photos/ericrstoner/4550713346/

FONTE:

http://mosqueiroambiental.blogspot.com.br/2012/06/exemplares-de-especies-florestais-na.html

PESQUISE NESTE BLOG:

Meio Ambiente: Poder x Ecologia

http://mosqueirando.blogspot.com.br/2011/09/meio-ambiente-poder-versus-ecologia.html

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

CURIOSIDADES: SURFANDO NO MAR DULCE DE VICENTE PINZON.

Rio Pará. Braço sul do colossal Amazonas em busca do Atlântico. Abundância d’água doce que surpreendeu Pinzon. Conjunto de quatro baías: Guajará, Santo Antônio, Marajó e do Sol. O rio e o mar em luta titânica. O rio-mar! E a Ilha assiste ao grandioso espetáculo.

FONTE: http://www.youtube.com/watch?v=WacTVIg3IRc&feature=related

terça-feira, 28 de agosto de 2012

CANTANDO A ILHA: A BAÍA ABRAÇA A ILHA

Autor: Enzo Carlo Barrocco

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A baía abraça a ilha,
o sol ensopa julho de suor;
a linha d´água,
a tez contra o azul.

Olhos que se ajustam à paisagem,
água, céu e ilhas;
alguma embarcação,
gente translúcida
sobre o lombo branco de Mosqueiro.

Segue julho,
verão de muitas cores;
o belo mora nestas praias,
nos lábios rubros das mulheres.

FONTE: http://jiraudiverso.blogspot.com.br/2008/12/enzo-carlo-barrocco-porto-arthur.html

O autor:

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ENZO CARLO BARROCCO

Enzo Carlo Barrocco, por batismo, Efraim Manassés Pinheiro (Tracuateua, Pará, 1960) Poeta, contista e pesquisador literário. Enzo caminha por vários gêneros poéticos, como o soneto, o poema livre, o poetrix, a trova, o hai-kai, embora, algumas vezes, tenha enveredado pelas sendas do conto. A síntese, como o próprio poeta gosta de afirmar, é a sua principal característica. Amante das artes em todas as suas vertentes, mormente à literatura, Enzo é um incansável pesquisador literário.

FONTE: http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/para/enzo_carlo_barrocco.html

sábado, 25 de agosto de 2012

A OUTRA FACE DA ILHA: MOSQUEIRO PEDE SOCORRO

POSTADO PELO BLOG CASARÃO DE MEMÓRIAS DA AMAZÔNIA (Blog da Associação dos Agentes de Patrimônio da Amazônia – ASAPAM), no dia 01 de fevereiro de 2011.

E-mail recebido pela Associação Cidade Velha-Cidade Viva, atendendo a solicitação de Eduardo Brandão, morador de Mosqueiro, para divulgarmos e refletirmos sobre a situação do patrimônio cultural de Belém e nos mobilizarmos para a preservação do mesmo, fazendo denúncias e cobrando atitudes das autoridades dessa cidade, deste Estado e desta região:

Caros amigos,

Todos sabem o carinho que tenho com Mosqueiro, não é por acaso que optei morar neste lugar.

Inconformado com tanta incompetência e irresponsabilidade, resolvi colocar por escrito um depoimento que reflete o meu sentimento nesse momento.
Conto com o apoio de vocês repassando o texto abaixo:

Porque 2011 e 2012 precisam passar rápido em Mosqueiro.


Com a passagem de um ano para outro costumamos fazer uma reflexão sobre o que passou e o que virá. Para nós, em Mosqueiro, o resultado desta reflexão em nada é animador. Um conjunto de desmandos, omissões e desatinos das últimas administrações formou um cenário que vem provocando um grande desalento para moradores, empresários e visitantes, principalmente àqueles que nutrem um sentimento responsável pelo futuro de um lugar que vem encantando gerações. Não é por acaso que presenciamos a mobilização de muitos para eleger Mosqueiro uma das 7 Maravilhas do Pará.

Sabemos que no seio de nossa sociedade existem diversas pessoas que só querem tirar proveito dos valores que um lugar oferece e quase nada fazem para retribuir o que recebem de bom. Costumo chamar esses indivíduos de cidadãos gafanhotos, depois de destruir a folhagem de um vegetal partem para outro e desta forma se transformam em verdadeira praga, acreditem, uma praga humana. Porém é na administração pública, onde pagamos os salários de indivíduos para promover o bem comum, que enfrentamos nossos maiores problemas.
Numa região, como o norte do Brasil, onde o percentual de domicílios atendidos por sistema de tratamento de esgoto dificilmente ultrapassa 5%, Mosqueiro está perdendo a oportunidade de ter mais de 60% de seus domicílios com seus esgotos tratados. Tudo porque a atual administração, alegando problemas na execução da obra na administração anterior abandonou os mais de dez milhões de reais investidos pelo cidadão contribuinte. As bombas das estações elevatórias foram danificadas, roubadas e nenhuma manutenção foi dada. O resultado é a rede afogada e as casas que se ligaram nos sistemas enfrentando o refluxo. Para justificar tal fato os agentes públicos divulgam que a tubulação utilizada foi sub-dimensionada, quando sabemos que tudo não passa de uma estratégia para atingir a administração anterior que também teve as suas falhas.

Com a aprovação do novo Plano Diretor de Belém, áreas de Mosqueiro foram definidas como de interesse a preservação. Contrariando este dispositivo, a administração municipal vem autorizando o funcionamento da atividade de exploração de areia em áreas que deveriam estar protegidas.

Estudo realizado pela UFRA aponta a atividade mineradora (areia, barro e pedra) como responsável por mais de 80% do desmatamento em Mosqueiro, contrariando a tese de que os assentamentos rurais é que mais desmatam. A última área decretada como Unidade de Conservação em Mosqueiro foi em 1983, de lá até hoje nenhuma outra, apesar de haverem estudos e dispositivos legais que apontam essa necessidade.

Para proteger áreas das orlas das praias e demais ilhas do Município de Belém, o Plano Diretor considerou área non aedificandi a faixa mínima de cem metros, a partir da linha de maior preamar. Desrespeitando o dispositivo legal, mais uma vez a administração municipal vem se omitindo ao não fiscalizar as irregularidades e até autorizando a construção de equipamentos em diversas praias de Mosqueiro.

Todos sabemos a importância dos casarões construídos na orla de Mosqueiro. Exemplares onde os traços da arquitetura europeia se evidenciam, ilustram com muita propriedade a forma de ocupação nas primeiras décadas do século passado e em cada um deles lembranças estão gravadas em suas estruturas.

Lamentavelmente não são alvos de uma política pública de preservação do patrimônio histórico e cultural por parte da administração municipal. Muito pelo contrário, o que estamos presenciando é a destruição gradual desses imóveis, entre eles o imóvel localizado na praia do Bispo que pertence à Prefeitura de Belém. 
Da mesma forma que os casarões, os sítios da baía do Sol que remontam do período Pombalino, estão cada vez mais esquecidos. A fábrica Bitar, primeira a produzir pneumáticos no Brasil ainda está de pé porque a família vem mantendo a propriedade, mas poucos são aqueles que conhecem este fato. Estrutura centenária como a capela do Chapéu Virado está preservada graças às ações da igreja católica. O mesmo não se pode dizer com relação ao trapiche da Vila que se encontra deteriorado. Como podemos falar em qualificar a atividade turística e aumentar a autoestima do mosqueirense com os valores históricos vazando pelo ralo sob os olhares incompetentes dos gestores públicos.

O turismo, sempre apresentado pelos políticos de plantão como prioridade, vem se desenvolvendo graças ao empenho e até teimosia de alguns empreendedores locais que insistem em manter seus investimentos. A associação Pró-Turismo de Mosqueiro elaborou um Plano de Desenvolvimento Integrado para a atividade no Distrito. Infelizmente nunca foi assumido pelo governo local que permanece perdido em ações pontuais, desarticuladas e sem o impacto positivo que todos esperam, é lamentável o despreparo dos gestores.
Muitos são os logradouros onde aqueles que possuem propriedade precisam aterrar, capinar e abrir valas para que os veículos possam transitar, pois os responsáveis pela administração municipal, mais uma vez, fingem que o problema não é com eles. A maioria das ruas que foram asfaltadas não teve o seu sistema de micro drenagem regularizado, o resultado são os alagamentos e deterioração rápida do serviço realizado.

Recentemente, Mosqueiro foi palco para muitas famílias festejarem a chegada do Ano Novo na beira da praia. A enseada do Farol e Chapéu Virado foi a mais concorrida e a festa muito bonita. O aspecto negativo ficou por conta da Agência Distrital e da Secretaria de Urbanismo que não deram manutenção no sistema de iluminação pública deixando a praia as escuras e as famílias vulneráveis às ações de assaltantes.

Tenho a convicção de que as situações relatadas são apenas algumas que ilustram o despreparo e a falta de interesse dos gestores que no momento são responsáveis pela Prefeitura de Belém. Enquanto nosso prefeito não cria vergonha, pede desculpa ao eleitor que nele confiou e pede para sair, resta-me torcer para que os anos de 2011 e 2012 passem logo e um novo grupo assuma a Prefeitura. Do contrário o estrago provocado poderá ser irreversível. 


Prof. Eduardo Brandão.

Belém, Pará, Brasil.

FONTE: http://casaraodememorias.blogspot.com.br/2011/02/mosqueiro-pede-socorro.html

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

JANELAS DO TEMPO: MOLECAGENS DO PASSADO 6

Farahzinhos: A Saga de Dois Garotos que Belém não Esqueceu

Autora: Coely Silva

Durante muitos anos,Joseph e Alexandre desmistificaram todos os pseudos valores de uma cidade provinciana, moralista e mal saída de uma época absolutamente imune às luzes de fora. Analisando bem o fenômeno Farahzinhos, chega-se à conclusão que, localizados neste contexto, Joseph e Alexandre nada mais foram do que dois garotos sadios, generosos e de cuca fresca, e que souberam assimilar como ninguém o espírito liberal do pai, o tunisiano Ben Fouad Ben Yskandar Ben Farrah, que no início da década de 20 aportava em Belém para ficar e adotaria o nome de Raymundo Farah.

Joseph e Alexandre, desse modo, realmente escandalizaram a sociedade belemita com suas façanhas e, apesar de serem “rapazes de família” como discriminadamente se dizia na época (e ainda se diz hoje), eles imprimiram às suas molecagens o espírito de aventureiros que nunca foram, apesar dos impulsos fugazes para novos ares.

De certo modo, os Farahzinhos, pelo espírito aberto e liberal, podem ser considerados cidadãos do mundo. E estofo internacional não lhes falta: pelo lado materno, eles descendem (vejam só!) das seguintes figuras: D. Afonso Henriques, o Conquistador, primeiro Rei de Portugal; D. Henrique II, Rei de Castela; D. Fruella II, Rei das Astúrias, Galiza e Leão; Carlos Magno; Wallia,, Rei Godo da Espanha. Ufa! É dose pra leão e uma porrada nos falsos “cabeças coroadas” de Belém. Tal o Brasão publicado que não deixa mentir e o livro “No Roteiro dos Azevedo e outras Famílias do Nordeste”, do Sebastião de Azevedo Bastos que os Farahzinhos caçaram e conseguiram – está com a Drª. Ambrosina de Azevedo Maia Sampaio, também descendente daquele ilustre tronco. Dona Maria de Lourdes Dantas Cavalcante Farah (que o velho Farah chamava gostosamente de “Lórdes”), mãe dos gêmeos Farahzinhos, era uma paraibana de boa cepa, que contrabalançava com homéricas surras nos gêmeos a excessiva complacência e generosidade do velho, para quem e sempre “meninas son inocentes”. E Joseph e Alexandre prestam um tributo sem igual ao velho, personagem quase que central desta entrevista (os dois lagrimaram falando do pai, eu vi!). Mas não o poupam: é hilariante e despida de falsa proteção à imagem paterna a denúncia que fazem de que o velho Farah comprava à Igreja indulgências aos montes, para “garantir o lugar da família no céu”. Quantos não fizeram isso e escondem.

E é uma experiência nova entrevistar Joseph e Alexandre, ouvir eles relatarem suas aventuras, curiosamente na terceira pessoa, e sentir que eles aos 39 anos, ainda conservam o mesmo espírito da época de ouro dos Farahzinhos, até nos modos e com suas calças surradas e camisetas mambembes. Durante um dia inteiro, eles percorreram os locais mais queridos do Mosqueiro, e foram fotografados pelo Wagner Bill em mais uma molecagem: durante cerca de cinco minutos, os veranistas e a população do Mosqueiro ouviram no sábado, dia 10 pela manhã, o alegre bimbalhar do sino da capela do Chapéu Virado, numa vívida e emocionante recordação de uma Era alegre e divertida: a Era dos Farahzinhos.”

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FONTE: Silva Coely. Especial de Férias de O Estado do Pará, de julho de 1978.

PESQUISE NESTE BLOG:

http://mosqueirando.blogspot.com.br/2010/09/janelas-do-tempo-molecagens-do-passado.html

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

NA ROTA DO TURISMO: MÀRIO DE ANDRADE EM MOSQUEIRO EM 1927.

 

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Mário Raul de Moraes Andrade, (9/10/1893 + 25/02/1945) poeta, romancista, crítico de arte, musicólogo modernista, participou da Semana de Arte Moderna de 1922. Mário de Andrade viajou pelo Brasil em busca de outros brasis, escrevia cartas aos amigos registrando as suas impressões da viagem.
Acima duas fotografias de 1927: Mário tomando banho na Ilha do Mosqueiro - praia do Chapéu-Virado.

Carta escrita a Manuel Bandeira durante a histórica viagem à Amazônia em 1927:

Mário de Andrade


Por esse mundo de águas, junho, 27.


Manu,


Estamos numa paradinha pra cortar canarana da margem pros bois de nossos jantares. Amanhã se chega em Manaus e não sei que mais coisas bonitas enxergarei por este mundo de águas. Porém me conquistar mesmo a ponto de ficar doendo no desejo, só Belém me conquistou assim. Meu único ideal de agora em diante é passar uns meses morando no Grande Hotel de Belém. O direito de sentar naquela terrace em frente das mangueiras tapando o teatro da Paz, sentar sem mais nada, chupitando um sorvete de cupuaçu, de açaí. Você que conhece mundo, conhece coisa milhor do que isso, Manu?(...) Belém eu desejo com dor, desejo como se deseja sexualmente, palavra. Não tenho medo de parecer anormal pra você, por isso que conto esta confissão esquisita, mas verdadeira que faço de vida sexual e vida em Belém. Quero Belém como se quer um amor. É inconcebível o amor que Belém despertou em mim...

Um abraço do Mário.

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FONTE: Blog do Pedro Nelito

(http://blogdopedronelito.blogspot.com.br/2010/09/mario-de-andrade-em-mosqueiro-em-1927.html

MOSQUEIRANDO: E, por falar em turismo, no último domingo estivemos em Paragominas para assistir ao encerramento da Feira Agropecuária daquele município. Além da magnitude do evento, em que se destacaram a beleza e variedade das exposições, o espetáculo do rodeio e a grande afluência do público, deparamos com uma cidade LIMPA, ORGANIZADA, TRANQUILA, BONITA, PROGRESSISTA. Segundo informações de moradores locais, bastaram duas administrações diferentes, mas com o mesmo propósito, para que a imagem do passado fosse mudada por completo. A isso chamamos vontade política – que, por sinal, falta a muitos governantes. Por outro lado, notamos que o sucesso de tal mudança também é mérito da efetiva participação popular. Aliás, esta é a fórmula de uma grande administração municipal: GESTOR COMPETENTE + VONTADE POLÍTICA + POVO PARTICIPATIVO.

Na cidade, além da área comercial, visitamos o LAGO VERDE e o PARQUE AMBIENTAL. O Lago Verde é um belíssimo projeto urbanístico de logradouro público, em fase de conclusão. É uma espécie de point noturno para o povo de Paragominas. Soubemos que, às suas proximidades, deverá ser construído, brevemente, um grande Shopping Center. Já o Parque Ambiental, com certeza um espaço muito bonito e repousante, é o exemplo maior de que a população está preocupada com o meio ambiente e deseja, sem dúvida alguma, preservar as suas belezas naturais e reconstituir o que foi degradado anos atrás. Parabéns, Paragominas, e obrigado pela acolhida!

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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

CURIOSIDADES: MOSKOW – UMA NARRATIVA ENTRE PORRADAS, PUNHETAS, ESTUPROS E ASSASSINATOS.

 

Autora: Rossi Gonçalves *

 

Moscow, livro de Edyr Augusto, publicado em 2001 pela Boitempo Editorial, apesar de ter recebido algumas críticas favoráveis, na época de seu lançamento, é mais um caso de bom texto ignorado pelos leitores – ao menos aqueles que vivem ao sul do país.

Não houve, em torno deste livro, divulgação, entrevistas, aquelas promoções que tornam um livro vendável. É mais um daqueles livros cuja capa não ajuda muito a divulgação, tamanha a repulsa que ela causa, com sua mistura de corte na pele e sangue fervilhando. Ele ficou, então, discretamente escondido, quietinho, aguardando um leitor mais curioso, disposto aos riscos de uma obra praticamente desconhecida, de autor pouco conhecido, no Rio de Janeiro.

Muito embora tenha surgido – e seu texto se configure como tal - no momento do “deixa o excluído falar”, o seu autor não é presidiário, nem figura conhecida no meio da exclusão. Edyr Augusto Proença é radialista, jornalista, publicitário e autor de peças de teatro, livros de poesia, crônica e romance. Um membro das classes privilegiadas de Belém que, além de ter outras importantes ocupações, é, também, autor.

Edyr Augusto trabalha, em Belém, como assessor de imprensa, na área cultural. Pertence a um seleto grupo de privilegiados – é um “incluído cultural” - que tem todo o tipo de informação à disposição.

No entanto, é o próprio autor que faz questão de ressaltar que, embora seja um representante das classes abastadas, tal fato não o impede de falar de uma realidade que atordoa a todos, independentemente da classe social. E Edyr Augusto parece mesmo habilitado a revelar as vozes das ruas. Moskow apresenta personagens comuns do cotidiano, bem definidos sob os aspectos psicológico, social e cultural.

Entretanto, apesar da participação intensa na vida cultural de Belém, na cidade do Rio de Janeiro, o lançamento de seu livro Moscow teve discreta passagem. Talvez por ter uma ilha de Belém como cenário. Infelizmente, o original texto de Edyr Augusto ficou anônimo, não merecendo mais do que pequenas e discretas resenhas.

Muito diferente é a narrativa. Totalmente indiscreta, perturbadora, estremecedora, sufocante. Moscow é livro que só pode ser lido aos poucos. Com muito exercício para respiração e relaxamento entre um trecho e outro. Muito embora os capítulos sejam curtinhos, não é possível ler um, de uma só vez, com raríssimas exceções. Ler Moscow angustia. Sobretudo porque é preciso parar, mas é imprescindível voltar a ler, já que o pensamento não larga o livro, os personagens, o lugar, de jeito nenhum.

O livro narra a história de um rapaz bem jovem, morador de Belém, junto com alguns amigos, em férias, em Mosqueiro. E a história desse rapaz, que é muito semelhante a dos amigos, é de uma vida de abandono. Sem família – a mãe não tem tempo para ele e é personagem quase inexistente –, quando não está dormindo em casa, está nas ruas, invariavelmente, envolvido em algum delito. Também não tem nome, rosto, nem idade e suas únicas referências são Dondinha, a amiga de infância, e a casa, para as quais sempre volta. Entre estupros, punhetas, porradas e assassinatos ele vai seguindo. E o leitor vai tentando se proteger de tanta violência.

Violência que, diferentemente de narrativas de violência urbana – com tiros, roubos, tráficos -, parece sem sentido, brincadeira, maldade apenas para, por poucos minutos, regozijar-se. São poucos os assaltos com fins lucrativos. Não é dinheiro que eles querem. E o que o protagonista quer? “Não sei o que quero, mas não invejo nada. Nem esses mauricinhos que passam de carro, com roupas da moda. Tenho meu jeans, minha bermuda, meu tênis. Tá bom”. (p.31) Sobra, então, a barbárie. A gangue de Moscow quer sangue, quer desforra imediata, se possível com morte, quer estupro, mesmo que a vítima não seja um objeto muito desejável, quer eliminar qualquer problema da forma mais brutal possível. E quer muito sexo. Consentido ou forçado. Com mulher ou homem. Adulto ou criança. Com fim feliz ou não. Tudo “sem culpa”, conforme anunciado, no início do livro: “Moscow é sobre violência sem culpa(p.6).

Ao conhecer a gangue de Moscow, parece impossível não fazer referência à Feliz ano novo, conto famoso de Rubem Fonseca, em que um grupo de jovens bandidos barbariza uma festa, com humilhações, estupros, mortes e muita diversão. Esta gangue é representante de um tipo de bandidagem ainda desorganizada e, por isso mesmo, mais assustadora.

No entanto, há fome imensa em Feliz ano novo, o que justifica a barbárie na mansão dos bacanas. Em Moscow, não há jovens famintos, extremamente carentes, em busca de saciar esta necessidade. Os meninos são representantes de classe média baixa - estudam, não precisam trabalhar e têm “um qualquer” para sobreviver.

Remetem, então, aos funkeiros cariocas que, há alguns anos, divertiam-se nos bailes através de uma coreografia que consistia em formar um corredor e atacar, de forma bastante agressiva, os “amigos” do outro lado. Brincavam de brigar e até matavam nesta representação de briga. Ao fim do baile, cumprimentavam-se, saíam juntos e combinavam o próximo baile. Em Moscow, os personagens da gangue parecem representar, também, uma brincadeira de assustar a vítima – normalmente um mauricinho -, estuprar, roubar e até matar.

O leitor, que entra nessa história devidamente avisado, ainda assim perturba-se: “A garotada chama Mosqueiro de Moscou. Chamei de Moscow porque Cacá Carvalho me disse que o livro revira tudo. “M” vira “W””. - afirma no primeiro parágrafo do livro.

E Moscow, nas suas poucas páginas, revira o leitor, também. Revira porque, como já foi dito, por mais sufocante que seja, não é possível largar a leitura. E mesmo diante de um personagem monstruoso, que mata, estupra, humilha, não é possível desejar a sua prisão, nem a sua morte. Ao contrário, causa perplexidade descobrir-se torcendo para que o protagonista se salve, conquiste a mulher que lhe revira a cabeça, continue considerado pela personagem Mara, a coroa por quem ele se apaixona sexualmente, e seja feliz.

A narrativa tem início com um saudosismo: Mosqueiro era bucólico. Ali passei minha infância e adolescência, sempre nas férias” (p.5). Embora breve, a descrição da Mosqueiro da infância é interessante, porque é ali que a narrativa tem o seu único momento de tranquilidade, de delicadeza.

Com o progresso da ilha - “Moscow ficou popular, as mansões se desvalorizaram. Hoje há até invasão de sem-terras. Os finais de semana são lotados” (p.5) -, chega, também, a dureza da narrativa, a violência. O prefácio, mínimo, em que o autor faz apologia a sua Mosqueiro, dá lugar àquilo que vai ser uma amostra do que o livro tem a apresentar. “Aquela brisa tinha um sabor especial. A gente sempre fazia isso. Às vezes nem dava certo. Hoje ia. Os barrancos perto da Praia Grande. Ficava para trás sempre um boy desses, procurando empregada. Era tiro e queda. Lá estava o garoto no escuro”. (p.7)

Assim, o personagem e seus amigos partem para o primeiro estupro seguido de assalto, em meio a uma série que a narrativa vai oferecer.

Muito embora o grupo roube a carteira do boy, a turma se diverte mesmo é em humilhar: Leva as calças dos dois. Deixa quase nu. Assim eles demoram a sair daqui.”(p.8). A comemoração do bem-sucedido assalto é no “boteco”, entre “cana” e jogos, até o sol surgir e o personagem voltar para casa e afirmar: Gosto de férias assim. Mosqueiro de noite. No escuro. Moscow. Eu gosto (p.8)

Afirmei acima que a violência em Moscow distingue-se da violência do tráfico, dos grandes centros urbanos. Isso, porque parece funcionar como uma diversão, um passatempo para os personagens. Não há um objetivo financeiro. Mata-se por amizade, por amor, por vingança. Basta uma oportunidade:

Passei lá na Praia Grande sem nem ligar se o casal da véspera estava por lá. A galera já estava no Barba. Ficamos de boba até umas duas. Apareceu o Tomás. Ele precisava da gente. Um cara mexeu com a irmã dele. Mais forte. Apanhou. Agora queria uma forra. O cara é de uma gangue, mas a gente não bota fé. Vamos?(p.12)

Há, no entanto, uma gradação mais cruel da violência que vai ocorrendo sem que personagem e leitor se deem conta. O personagem, notívago, sob efeito constante de drogas e álcool, vai se prendendo em uma difícil trama de sexo e assassinato. Quando em companhia dos amigos, o roubo e o sexo, muito embora extremamente violentos, têm aspecto de divertimento mais ou menos controlado. No entanto, sozinho e alucinado, ele comete erros que assinalarão o seu fim.

Estou andando de volta. Olho para o térreo do Catolé. Um movimento. Uma guria acordada, no pátio. Uns dez anos. Vai dormir, penso. Está apenas de camisola. Eu a chamo, discreto. Uma, duas vezes. Ela vem. Olho para os lados. Ninguém. Erika. Saio com ela de mãos dadas em direção ao barranco da praia. (...) Acordo com o ônibus passando lá pelas seis. Assustado. Há sangue em minhas mãos. Vou para casa. O sol já começa a ferir os olhos. Vou direto para o meu canto. Não durmo fácil. Aconteceu alguma coisa. Olho para as mãos e os braços. Vou à pia e lavo. Sei lá. (p.22)

Apesar da suspeita de algo errado, o personagem carregará essa dúvida por toda narrativa. O assassinato da criança, que comoverá a cidade, através de comentários e insinuações o atormentará e não se esclarecerá, dando à história um toque leve de mistério que, embora não seja o único trunfo da narrativa, é o elemento perturbador desta. Personagem e leitor mantêm juntos a dúvida quanto ao ocorrido naquele lugar, entre ele e a menina.

O assassinato do rival, Beto, é a última armadilha que o personagem cria para si mesmo. A partir de então, aquelas gratuitas peripécias como roubos, estupros e mortes vão tendo consequências que assustarão e extinguirão o grupo.

Com a ajuda de Mara, a sua parceira sexual preferida, ele terá alguns dias a mais de liberdade, escondido no quarto dela. Mais tarde, quando Mara, pressionada pelas filhas, leva-lo para fora da cidade, é através de transes que encontrará sua Mosqueiro: “Agora estou sobrevoando Moscow naquele começo de noite, das praias iluminadas, da Ilha de Amores quieta, da Graça, da minha mãe e os outros. Tão perto, Moscow, mas não deu. Bye”. (p.65)

Engano. Moscow dá, sim. Sobretudo, porque há um protagonista que aproveita todas as oportunidades. O personagem, mesmo em situações perigosas, vislumbra uma alternativa para ganhar. Ganho que pode ser de confiança, de um beijo, de um delírio, de uma mulher “gostosa”. Impressiona como, sem se esforçar, ele consegue se sair bem das situações.

Durante o primeiro estupro seguido de assalto, os seus parceiros seguram o rapaz que está sendo violentado, enquanto ele está com a gata: “Eu fiquei com a gata. Naquele escuro, eu precisado (p.7). Situação que se repetirá em outros estupros/assaltos.

Saindo de uma aproximação sem êxito, com Graça, a menina que ele deseja, ele se apropria de uma bicicleta: “Quando ela volta, eu já fui. Estava com raiva. Melhor não falar. Tinha uma bicicleta dando sopa ali no caramanchão do Chapéu Virado. Levei e imprimi velocidade (p.11) Assim, o personagem sugere entrar e sair de qualquer situação: A família de Graça está no pátio, ele entra e é bem recebido. Graça se distancia, ele sai sem ser percebido. E em outra situação: “Me deixam entrar. Estão acabando de jantar e vendo televisão. Tomo uma Coca. Depois vão para a varanda. Vou também e participo da conversa da família.(p.20)

É como se o personagem pairasse sobre as cenas. Ninguém pergunta seu nome, sobre sua família, o que faz. Ele passa por todas as cenas sem se identificar, como se estivesse de passagem e isso fosse suficiente para explicar a sua presença entre grupos tão distintos quanto o do bar do Barba, onde a gangue se reúne; a casa da Mara, a mulher mais velha que ele e a sua preferida sexualmente; a família da Graça, a jovem menina que ele quer para namorada.

Aproveitando a oportunidade, ainda, quase sem ser percebido, possui Dondinha: “Nos acostumamos a transar em silêncio, na rede, eu por trás, segurando seus seios pequenos” (p.19). E, também, aceita o olhar “pidão” da “coroaça” e mais uma vez “se dá bem”: “Vou. É uma coroa. Podia ser gordona, senhora, sei lá. Mas não. É uma coroaça. Cabelo pintado. Mas fica bem (p.23)

No estupro à grávida, não participa porque “a gente não gosta de mulher barriguda”. Mas, quando invadem a casa de dois andares, enquanto os outros reviram o ambiente, ele vai atrás da proprietária, no quarto: “Ela estava de camisola. Porra, uma gata. Magrinha, loura, com o bico dos seios aparecendo no tecido da camisola. (...) Se eu fosse o primeiro era melhor. Deixava o pão com manteiga pros outros”.(p.28).

Até quando as contas de tantas peripécias tem que ser prestadas, é ele quem sobreviverá. Parceiros morrem, aparecem desfigurados, são levados pela polícia, desaparecem. Ele foge sem ser incomodado, com a ajuda de Mara. Não foi possível descobrir o interior de Graça, desejo permanente do personagem, mas Moscow lhe reserva um fim digno de herói: uma fuga espetacular, desde a entrada na casa de Mara, passando por todo o percurso, corajosamente, enfrentado, até o delírio final, sobrevoando Moscow.

Bibliografia:

AUGUSTO, Edyr. Moscow. São Paulo, Boitempo Editorial, 2001.

BOSI, Alfredo. Cultura brasileira: temas e situações. São Paulo, Ática, 1987.

FONSECA, Rubem. Feliz ano novo. Rio de Janeiro, Artenova, 1975.

FOUCAULT, Michel. Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu

irmão... Trad. Denise Lezan de Almeida. Rio de Janeiro, Graal, 1977.

HALL, Stuart. A identidade cultural na Pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva

e Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro, DP&A Editora, 1977.

* Doutora em Teoria Literária pela UFRJ.

FONTE: http://www.ciencialit.letras.ufrj.br/garrafa10/rossigoncalves.html#_ftn1

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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A ILHA CONTA SEUS CAUSOS: O PADRE SEM CABEÇA

 

“Muitas pessoas ainda cultivam o costume de ir a Belém para resolver problemas, pagar lojas ou ir ao médico, nas primeiras horas do dia, quando ainda está muito escuro”. No Carananduba, vão direto para a parada da praça.

Muitas pessoas contam que, antigamente, ao caminharem com destino à parada do lotação (ônibus) viam um padre caminhando. Quanto mais se aproximava, mais crescia, a ponto de não se enxergar sua cabeça. Seguia pela Rua Nossa Senhora da Conceição e, próximo à praça, sumia embaixo de um piquiazeiro (hoje ainda existe o tronco), deixando muitos assustados, gelados e paralisados, sem conseguir se mover por alguns instantes.”

FONTE: (Caldeira, Gianny. Cartilha “Mosqueiro Ilha das Lendas”, 2009 – p. 17. CRAS – FUNPAPA)

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A ILHA CONTA SEUS CAUSOS

MOSQUEIRO LENDAS E MISTÉRIOS

terça-feira, 14 de agosto de 2012

CANTANDO A ILHA: CAMINHO NO MARAÚ

Autor: Prof. Alcir Rodrigues

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O caminhante solitário

não deixou pegadas estampadas

na areia...

Ou a chuva passou uma borracha,

ou as ondas lavaram as areias,

deixando (só-mente)

um piso liso úmido

          (para os seus sucessores),

sem rastros,

como os de um curupira sem peso

que levitasse em seu passeio,

antes de retornar para seu porto seguro:

                                   Porto Max!

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Nem sequer um hasta la vista!

E ainda hoje,

assim mesmo, suas pegadas

indeléveis

flutuam no espaço etéreo

de um Maraú mítico,

onde poucos conseguem

alcançar a trilha

que leve leva para seu

próprio e único

                                     Caminho de Marahú...

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FONTE: http://moskowilha.blogspot.com.br/2012/05/caminho-no-marau.html#links

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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

JANELAS DO TEMPO: O PONTO CERTO DO ARIRAMBA

Autor: Augusto Meira Filho

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Praia do Ariramba (FOTO: JCOliveira – 2012)

“Quando o bairro do Chapéu-Virado era o mais preferido do veranista ou do visitante, outros locais admiráveis da Ilha do Mosqueiro começavam a ser descobertos, não só pelo seu clima, mas, sobretudo, pela beleza de suas praias. Assim chegou o belenense às bordas do Murubira, do Ariramba, de São Francisco, Carananduba e demais logradouros e já hoje famosos da vida mosqueirense, principalmente após a construção da nossa estrada de rodagem e da discutida ponte no “Tauarié”.

Há muitos anos, as possibilidades de se chegar ao Ariramba eram remotas. O bonde a tração animal (...) depois movido a vapor, da Vila ao “Porto Arthur” – concessão de Pindobussu de Lemos, só permitiria o acesso até aquele ponto. Com esforço se alcançaria a pé as terras do Murubira.

Com o advento da rodovia beira-mar, incrementada na administração do Prefeito Abelardo Conduru, os caminhos foram se alongando pouco a pouco, até aquela penetração alvissareira ao tempo da gestão Stélio Maroja, quando os veículos da Agência Municipal poderiam chegar à Baía do Sol, via Sucurijuquara. Ainda conhecemos o “Ariramba” como lugar distante e de difícil penetração. Contudo, já se celebrizava no bairro o “Ponto-Certo” misto de mercearia e casa de hóspedes. Uma série de quartos contíguos, de madeira, seguindo a casa comercial da esquina. Seu proprietário o Oliveira – Euclides Soares de Oliveira – antigo auxiliar do Russo no Hotel, era o responsável pelo movimento da freguesia no Ariramba, pois mesmo aquele negócio pertencia ao dono do Hotel do Chapéu-Virado.

Mais tarde, Russo venderia tudo aquilo ao próprio Oliveira, outra figura histórica do Mosqueiro, com seus domínios do Ariramba, como o Russo no Chapéu-Virado e o Zacharias Mártyres, no Farol.

Com outros de nossa geração, muitas vezes visitamos o Ariramba, ao tempo em que a residência última do bairro era a do Desembargador Arnaldo Lobo, por nós construída a seu pedido. A própria linha do ônibus municipal tinha o seu término cerca de 100 metros antes da casa praiana daquele ilustre magistrado. Mas o Oliveira já ali pontificava e era ele quem abrigava a moçada que, corajosamente, se atirava para o Ariramba, então, considerada “terra-sem-fim” na Ilha do Mosqueiro. Mal se conheciam as praias de São Francisco, do Caruara, do Paraíso e, muito menos, as da Baía do Sol.

Assinalamos o Ponto-Certo por ser, realmente, um ponto notável dos velhos tempos mosqueirenses que procuramos fixar nesta contribuição.

E falar nesse antigo abrigo da estudantada sem recursos que fugia bravamente da “Porta-Larga” da Vila atrás de algum “rabo-de-saia” merecedor de tamanho sacrifício, seria injustificável deixar de exaltar o seu chefe soberano negociante do lugar, o Oliveira, cuja vida seria uma verdadeira novela se pudesse ele contar ou revelar sua permanência naquele canto do Ariramba, crescendo e vivendo com ele e por ele.”

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 352 e 355.

MOSQUEIRANDO: Euclides Soares de Oliveira, o conhecido Oliveira do Ariramba, faleceu há bastante tempo. Entretanto, o seu Ponto Certo ainda existe no mesmo lugar e continua atraindo seus frequentadores com o sabor inigualável dos famosos Pasteizinhos do Oliveira, marca registrada dos velhos tempos da Ilha.

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JANELAS DO TEMPO: O PORTA-LARGA

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

CANTANDO A ILHA: ILHA DO MOSQUEIRO

Autor: Rui do Carmo

Ilha do mais belo vagar,

é só bater a mais leve brisa

e lá está ela como um filme a passar

num romântico pasmar.

Torna seus amantes seres flutuantes

num breve instante, estão a caminhar,

descalços, na areia, ouvindo ondas cantantes

na ressaca maravilhosa da beira mar.

Não há quem resista às belas morenas

que passam com peças pequenas

colorindo a terra, o céu e o mar

fazendo o coração tilintar.

Sentimos a proximidade da lua

antes porém é bom tomar um banho de chuva,

para esperar a lua prateada em noite enluarada

na Ilha do Mosqueiro nossa eterna enamorada.

 

FONTE: http://poesiasparamosqueiro.blogspot.com.br/

O Autor:

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Rui do Carmo é administrador de empresas e autor de quatro livros de poesia e prosa. Em 2004, criou, ao lado de outros poetas e escritores, o Movimento Literário Extremo Norte, para promover o “resgate e a valorização da profissão na região”. Realiza saraus semanais espalhados por Belém (PA), cidade em que nasceu, em 24 de março de 1958. É fundador do Instituto Cultural do Extremo Norte e realiza o Encontro de Escritores do Extremo Norte, que ocorre desde 2007 na Feira Pan-Amazônica do Livro.

“Rui do Carmo é um poeta que sabe vender o peixe dele. Onde for, em praça publica, sabe declamar não só as poesias dos grandes autores brasileiros, mas as suas próprias. A grande praia dele é a defesa dos autores locais, os autores paraenses. O nome do Movimento Extremo Norte é retirado de uma expressão utilizada por Dalcídio Jurandir, escritor inspirador do movimento ao lado de outros como Rui Barata, poetas e políticos importantes da década de 40 na região Norte. Rui do Carmo e seu coletivo possuem a mesma intenção que Dalcídio Jurandir tinha, de escrever sobre a região Norte, de defender uma outra literatura. Junto com o coletivo de poetas dele.”

Allan Carvalho, funcionário da Secretaria da Cultura do Pará, em entrevista à produção do projeto.

FONTE: http://www.producaocultural.org.br/videos/rui-do-carmo/

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

NA ROTA DA HISTÓRIA: A ASSEMBLEIA DE DEUS NA ILHA

Pesquisa realizada pela Profª. Martha Débora Sales.

Os missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg vieram para o Brasil, Estado do Pará, ficando em Belém. Esforçaram-se para aprenderem um pouco da nossa língua e começaram a pregar a Mensagem Pentecostal. Em 18 de junho de 1911, foi fundada a Assembleia de Deus no Brasil.

Devido ao clima, o missionário Gunnar teve a saúde afetada. Bastante enfermo, foi aconselhado a procurar um lugar calmo, de clima mais ameno, para o devido repouso. Por esse motivo, o missionário veio à Ilha do Mosqueiro, em um barco à vela, tendo desembarcado no Trapiche da Vila, no dia 09 de setembro de 1911.

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Missionário Gunnar, fundador da Assembleia de Deus na Ilha.

Após a chegada, Gunnar sentou-se em um banco da Praça da Matriz, para um breve descanso, aproveitando para observar calmamente o lugar. Passados alguns momentos de profunda reflexão proporcionados pela quietude daquela manhã, o missionário conheceu, ali mesmo na Praça, o Sr. Vicente Melo, morador da Ilha, que o convidou a ficar em sua residência, na Trav. Siqueira Mendes. Na noite daquele mesmo dia, realizaram um culto na casa do Sr. Vicente. Nessa reunião, ele e a família aceitaram Jesus Cristo.

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Ao chegar à Ilha, Gunnar Vingren senta-se na Praça da Matriz.

Iniciava-se, assim, naquele longínquo dia 09 de setembro de 1911, o trabalho da Igreja Assembleia de Deus, na Ilha do Mosqueiro. No dia seguinte, foi realizado outro culto, dessa vez na casa do Sr. Fulgêncio Teles, na Oitava Rua, e mais uma família decidiu-se por Jesus.

O primeiro Batismo da Assembleia de Deus em Mosqueiro foi realizado pelo missionário Gunnar. Os membros das famílias do Sr. Melo e do Sr. Teles foram batizados por imersão nas águas da Praia do Bispo, a exemplo do Batismo de Jesus no Rio Jordão.

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2011 – O Batismo na Praia, na Festa do Centenário (JCSOliveira)

Por muitos anos, os cultos eram feitos em residências particulares, tendo horário estabelecido para serem realizados, pois, algumas vezes, tanto o missionário quanto os membros da nova Igreja foram perseguidos e atacados com paus e pedras por pessoas intransigentes da comunidade local.

O Primeiro Templo da Assembleia de Deus foi construído em 1944, na Rua 15 de Novembro, na Vila, em terreno doado pelo Sr. Moacir Souza, membro da Igreja em Belém.

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Primeiro Templo da Assembleia de Deus na Ilha (1944)

Em 1945, o trabalho de Evangelização foi expandido até o bairro de Carananduba. Com o crescimento do número de fiéis, a Assembleia de Deus localizada na Vila desmembrou-se da Igreja de Carananduba em 1989.

Durante cem anos de trabalho religioso e social na Ilha, a Assembleia de Deus tem conquistado muitos fiéis e realizado centenas de Batismos por imersão, segundo os preceitos do Evangelho.

A Igreja tem o Ministério (Pastor, Evangelista, Presbítero, Diáconos e Auxiliares) e possui mais de doze Congregações, incluindo a que funciona no prédio recentemente adquirido na Avenida 16 de Novembro.

A Assembleia de Deus, além do desenvolvimento da missão evangelizadora, atua na área social, com inúmeros trabalhos dirigidos às crianças e aos adolescentes. Possui Departamento Infantil, Banda de Música composta em sua maioria de adolescentes, Conjunto de Jovens e Adolescentes, Conjunto de Senhores, Visitadores e um ônibus. A Igreja tem Consultor Jurídico e possui Estatuto registrado em Cartório de Títulos e Documentos.

Vinte e três pastores já assumiram a Igreja Assembleia de Deus, incluindo o atual Pastor Carlos Soreano.

MOSQUEIRANDO: Para saber mais sobre a Festa do Centenário da Assembleia de Deus na Ilha do Mosqueiro, acesse:

http://cemanosdeassembleiadedeusemmosqueiro.blogspot.com.br/

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

CANTANDO A ILHA: UMA PONTE ENTRE O HOJE, O ONTEM E O AMANHÃ

Autor: Prof. Alcir Rodrigues

A ponte quase que somente liga hoje o Mosqueiro ao nada, 
Pronunciam alguns... nada disso: é uma voz do passado, cochichando 
Ao nosso ouvido: “Não deixem morrer nossas memórias!” 
E, se é uma ponte de memórias, um trapiche de lembranças, 
É também um convite a um mergulho, de um salto rápido, 
Não só nas águas da Baía de Marajó, mas uma imersão 
Nas águas passadas do tempo e do espaço, sob e em frente 
Deste monumento erigido por ingleses em 06/09/1908. 

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Cem anos de nascimento, cem anos de ir-e-vir de pessoas...
E nada de batismo, um monumento anônimo, 
Que ergue sua voz secular, vinda com os ventos ancestrais 
Da Belle Époque Paraense, que o Ciclo da Borracha 
Fez passear em trajes afrancesados e arquitetura requintada, 
Da melancólica praia do Bispo até o doce recanto do Ariramba... 
A transfusão de tempos nos vislumbra esta Ponte, pontas atadas 
De um século e outro, do outrora ao agora, a lembrar 
Que seu parto coincidiu com a chegada dos estrangeiros da Amazon River, 
Da Port of Pará e Pará Eletric Railways Company, 
Construtores dos chalés da orla de nossa bela Ilha.

Antônio Lemos ressuscita em nossa memória mosqueirense, 
E esta ponte que não liga margem a outra ― liga tempo e memória―
Já testemunhou a atracação de centenas de navios-fantasmas... 
Ponte a interligar a Ilha do agora àquela do outrora, do fim 
Do Ciclo Áureo da Borracha, trapiche, atracadouro onde aportaram 
Personagens navais que jamais devem mergulhar nas águas 
Barrentas da desmemória: o vapor Gaivota, o mais antigo 
Na linha Belém-Mosqueiro-Belém. A lancha Tucunaré, o saudosíssimo
Almirante Alexandrino, o Lobo Dalmada, o Lauro Sodré, o belo, 
Luxuoso e elegante Presidente Vargas. Ei, psiu! Acorde de seu sono,
Sob estas águas! Mas... é impossível...

Muitas águas passadas, e o trapiche ainda sobrevive em seu eterno 
Retorno de tentativas com outras embarcações: Otávio Oliva, Capitariquara, 
Mazagão... E hoje, esporadicamente, surge nos horizontes da Baía 
De Santo Antônio, como um mito vivo, eis de novo o intendente, 
Antônio Lemos, um retorno ao passado, mesmo que raro, muito raro. 
Importa é que nosso secular monumento anônimo ainda 
Sobrevive, sem projetos, sem nome sequer, apesar de não ser mais 
Metálico, ser de madeira, em estado de decadência que dá dó de ver...

Mas é um sobrevivente teimoso. Por isso venceu a outros, já extintos. 
Na sua inglória luta temporal, sobreviveu aos trilhos do Ferril-Carril, 
ao Cine Guajarino, ao Bonde Pata Choca. 
Nasceram a Rádio Nacional, o Estado Novo. Veio Magalhães Barata, 
eclodiram duas guerras mundiais, nasceu Brasília e a Rodovia 
Belém-Brasília, chegaram os mega projetos desenvolvimentistas amazônicos, 
O Milagre Brasileiro trouxe-nos a PA-391 e a Ponte Belém-Mosqueiro 
― para ofuscar o trapiche. 
Veio a energia de Tucuruí, espantando visagens e assombrações... 
O trapiche, caprichosamente, ainda está de pé, por assim dizer, 
À revelia da ausência de projetos de melhoria de vida para a gente daqui da Ilha.

As águas passadas e as atuais não destruíram o trapiche anônimo: 
As do futuro, então, o farão? 
Ponte sem função? Não: perdeu uma função e ganhou outra: os namoros em flor! 
O guerreiro já velho, cansado e calejado, de muitas batalhas, tanto ganhas 
Quanto perdidas ― sem mais nenhuma por vencer―, talvez não queira mais, 
Do mundo e das pessoas, nada mais que se mantenha dele, na memória, 
Os tempos de glória, para o eternizarem. Jamais deseja o esquecimento, 
Pois o esquecimento, este sim, significa a morte.

 

FONTE DO TEXTO: http://www.escrita.com.br/leitura.asp?Texto_ID=9248

sábado, 4 de agosto de 2012

JANELAS DO TEMPO: A ILHA E AS GUERRAS

Autor: Cândido Marinho Rocha

“Cento e sete anos separavam as duas épocas: 1836 e 1943”. Um de oitenta anos de idade, nascido naquele belo bairro da Ilha, falava assim:

-- Meu pai me contou que meu avô brigou aqui na praia do Chapéu Virado de armas nas mãos, onde dois canhões atiravam sobre invasores de nossa Ilha. Um calibre 12 e outro jito, quase parece um rifle, desses 44, velho, enferrujado, gaiato. Meu pai me contou que meu avô fugiu pra dentro das matas, escondeu-se no igarapé, nadou pra outras ilhas, Gambá, das Pombas, Caratateua. Era o tempo de um Marechal Rodrigues, que governava o Pará da Ilha de Tatuoca, pois em Belém havia um governo revolucionário, cabanos chamados.

Em nome do governo imperial, dois navios de guerra de nomes Independência e Brasília mais lanchões e canoas, sob comando de um fragata Ricardo Hayden, atacaram os valentes fortificados na Ilha. Corria o mês de janeiro de 1836, dias 21 e 22 e o 2º. Batalhão de Caçadores da Brigada de Pernambuco comandado pelo Major Muniz Tavares mais trinta e seis paraenses da Vigia e de Belém desembarcaram e perseguiram os revoltosos. As forças imperiais venceram pelo número, pelo fogo, pela técnica. A Ilha resistiu tenazmente, mas a perícia militar prevaleceu. “Após algumas horas de combate, os rebeldes abandonaram as trincheiras, deixando alguns prisioneiros, peças de ferro, armamento e munições. Na fuga, muitos morreram.”

Portanto, Mosqueiro não viveu sempre de amores e sonhos. Também prestou seu sacrifício à história da liberdade paraense. Ali mesmo onde cochilava aquele pacífico canhão de 1943, velha peça aguerrida expeliu fogo em 1836 em defesa da terra e de suas convicções de disciplina e libertação.

E, sobretudo, de repúdio sanguinolento e patriótico aos que desejavam subjugar o povo.”

“Tornemos à Ilha. A vida, colorida pela presença da peça de artilharia, era uma graça de Deus. Cada vez mais banhados pelas luas de paz e marés de boa vontade, os habitantes, não podendo obter açúcar branco triturado, por falta de transportes nas costas brasileiras, fabricavam mascavados; não recebendo charque, comiam mariscos; faltando-lhes sal, usavam limão; frutas, farinha, feijão, verduras vinham da terra, da qual então se lembraram para plantar. Barcos chegados da contra-costa traziam miudezas de sal, trocadas por cachaça, melado, ovos e criações.

Tudo era vencido pelo espírito esportivo do mosqueirense, que raramente se aborrece. Tanto que nunca se teve notícia de crimes bárbaros na Ilha. Aqui e ali uma terçadada mais vibrante, uma facadazinha mais audaciosa, tabefes, brigas corpo-a-corpo, nada mais. As festas, bailaricos simples dos brasileirinhos do Mosqueiro, muitas vezes terminam em brigas. No dia seguinte, estavam reunidos novamente, a gozarem as pancadarias, os rabos de arraia, as capoeiras, os pileques e, até mesmo, as irreverências dos que se apoderavam da namorada do companheiro:

-- Tu já “derrubaste” aquela uma?

-- Mas quando? Se foi ela quem me “derrubou”...

-- E que ela te disse de mim?

-- Que tu és chocho e gorado.

No Mosqueiro, nem a presença do artefato guerreiro deu ideia de guerra. Nem a presença da ameaça da repetição dos bombardeios de 1836 mortificou o espírito daquela gente amorosa. O canhão transformou-se no anti-símbolo do extermínio. Á noite, no escurinho, quantas vezes aquela arma protetora foi dos encontros de amor dos brasileirinhos pobres e alegres da Ilha.

Não riam do que representava, na verdade, a precaução militar. Riam e amavam porque aura afrodisíaca a isso os impelia. Aura permanente, que brota do seio da terra, dos ventos do Marajó, das copas dos açaizeiros faceiros, altaneiros, do coração simples do homem, da alma dadivosa e crente da mulher, da alegria integrada das crianças, do repouso de válidas velhices, da alimentação calcificada de quantos tipos de peixes pescam na orla da Ilha.

Os pomares imensos, com o silêncio aliciante das mornas tardes, revaldo coberto de folhas macias, sinfônicas aves plangendo flautas, amores vivendo no ar e no som, pediam casais, pediam amores, na oferenda dos frutos gostosos, seios fartos na oferta da vida.”

FONTE: MARINHO ROCHA, Cândido. “Ilha Capital Vila”- GRÁFICA FALÂNGOLA EDITORA. Belém-Pa. 1973- pp. 182, 183 e 184).

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A ILHA DOS CABANOS

JANELAS DO TEMPO: O CANHÃO DO CHAPÉU VIRADO

http://www.mosqueirando.blogspot.com.br/2011/08/mosqueiro-lendas-e-misterios-o-guardiao.html

A ILHA CONTA SEUS CAUSOS: O BOTO NA BAÍA DO SOL

 

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“Certo dia, uma moça foi tomar banho na praia da rampa com os amigos. Mais tarde eles foram embora e a moça ficou mais um pouco. De repente apareceu ao seu lado um belo rapaz todo vestido de branco, parecendo um príncipe. Ela se encantou por ele, que por sua vez começou a paquerar a moça, que ficou apaixonada.

Todas as vezes que ia à praia, o belo rapaz aparecia para ela, que foi ficando muito magra, feia, parecia que ia morrer. A família já estava preocupada. Sua mãe insistiu e ela, com muito medo, contou a verdade sobre o belo rapaz. A mãe desconfiou de tudo.

A moça estava grávida do boto. Quando o filho nasceu, passando poucas horas, o menino se transformou em um botinho. E foi aí que sua mãe soube que um boto tinha engravidado sua filha. O botinho foi deixado no mar e a moça nunca mais tomou banho na praia.”

FONTE: (Caldeira, Gianny. Cartilha “Mosqueiro Ilha das Lendas”, 2009 – p. 13. CRAS – FUNPAPA)

FOTO: www.baiadosol.blogspot.com.br

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

JANELAS DO TEMPO: UMA LEMBRANÇA DE INFÂNCIA

Autor: Prof. Alcir Rodrigues

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Era 12 de janeiro de 1976. Meu pai me pegou pela mão e me levou até a praça do Chapéu-Virado, lá onde ainda existe, encravada na pracinha ―que os mais antigos ainda chamam de largo―, aquela igrejinha bastante elegante, construída em 1909, a Capela do Sagrado Coração de Jesus.

Havia ali, naquele momento, uma multidão; na verdade, um amontoado de pessoas se acotovelando. E eu não sabia por que ou para quê. Foi aí que meu pai me botou nos ombros dele. Aí pude, enfim, ver destacadamente, entre outras pessoas, um senhor muito bem vestido, protegido por dezenas de soldados e seguranças. Parecia ser ele o motivo de toda a balbúrdia.

clip_image004 Inauguração da Ponte. Fonte: MEIRA FILHO, Augusto. Mosqueiro:ilhas e vilas.Belém:Falangola,1978.     

Vi que ele lentamente levantou um pano que cobria uma estátua (sei hoje que o nome correto daquilo é busto, e que o pano era a bandeira do Pará), e todo mundo aplaudiu o que ele fez. Mais tarde, pude entender com mais clareza tudo aquilo que ocorreu naquele já longínquo dia.

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Fonte: fotosdemosqueiro.blogspot.com.br

Aquele senhor, conforme me explicou papai, era o general Ernesto Geisel, o penúltimo dos presidentes militares. Ele veio ao Mosqueiro inaugurar a Ponte Belém-Mosqueiro, cujo nome oficial é Ponte Sebastião R. de Oliveira. Então, aproveitando a ocasião, na mesma manhã, ele também inaugurou o busto na pracinha ao redor da igrejinha.

Contam que ele, o Presidente, perguntou a alguém da comitiva do governo local (o estadual) qual seria a função daquela ponte. Ela teria por função “escoar” que produto? Iria movimentar a economia local?

“Não”, responderam. A ponte era para o lazer do belenense. Dizem que ficou decepcionado com o que lhe disseram. Não poderia perceber, naquela época, que o turismo é um produto rentável, e sustentável, pois não se esgota nunca.

Só sei que, décadas depois, ainda guardo na memória aquela manhã, aqueles acontecimentos que muito marcaram minha infância.

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Fonte: fotosdemosqueiro.blogspot.com.br

FONTE: http://moskowilha.blogspot.com.br/2012/04/uma-lembranca-de-infancia.html#links

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