sábado, 8 de janeiro de 2011

NA ROTA DA HISTÓRIA: O POUSO DOS AVIÕES

Em seus relatos sobre a história do Chapéu Virado e do Farol, o Dr. Zacharias Mártyres e sua esposa Dona Adelaide de Almeida sempre mencionavam a chegada, naquela ponta da ilha, de hidroaviões e, até mesmo, de um Zeppelin, por ocasião da Segunda Grande Guerra. Seus tripulantes, geralmente oficiais ingleses, não raras vezes se hospedavam no Balneário Farol, ali aos pés do rio-mar. Entretanto, outros relatos existem sobre o assunto que revelam a presença de aeronaves naquela praia em tempos mais remotos, quando não havia aeroporto nem na Capital do Estado. Acreditamos que o primeiro avião monomotor a pousar naquela faixa de areia foi o “Breguet 118”, segundo as pesquisas do historiador Augusto Meira Filho:

“Em 13 de outubro de 1927, procedente do Rio de Janeiro com várias escalas, inclusive em São Luís, aterrissou na praia do Chapéu-Virado o avião “Breguet 118”, pintado de alumínio, da Companhia “Latecoère”, dirigido por Paul Vachet, tendo como engenheiro mecânico Michel Goull e mecânico Marcel Gaffé. Sobrevoou Chapéu-Virado às 09:10 horas e às 10:25 horas aterrissou na praia do mesmo nome. O Comandante foi recebido pelo Dr. Innocêncio Bentes representante do Prefeito Crespo de Castro e outras autoridades. Em caminhão a comitiva seguiu para a Vila onde embarcou na lancha “Lisboa Serra”, desembarcando na escadinha (do cais do porto), ficando a tripulação hospedada no Grande Hotel. No Chapéu-Virado o avião foi amarrado próximo à chácara do Dr. Innocêncio Bentes. O voo de São Luís a Belém levou quatro horas e a finalidade era fazer estudos, para estabelecer uma linha regular. No local onde aterrissou o avião, o Dr. Paulo Eleuthério em nome do intendente de Belém indicou aos representantes da imprensa o local onde seria erguido um pequeno monumento comemorativo à chegada do “Breguet 118”.” (MEIRA FILHO, 1978).

Interessante, não?! Bem que o Paul Vachet e o “Breguet 118” mereciam esse monumento que nunca existiu. E por falar no assunto, um segundo monumento deveria ter sido erguido naquele mesmo local, porque, no dia 16 de janeiro de 1929, ali pousava o avião “Peru”, pilotado por Carlos Martinez de Pinillos (1895-1947), tendo como navegador o tenente da Marinha peruana, Carlos Zegarra Lanfranco, conforme o site do AEROCLUB DEL PERU – ACP – SOCIOS:

“En la ciudad de Belem do Pará no existía aeropuerto y el aterrizaje se efectuó en un campo improvisado en la playa "Chapeu Virado" en la isla de Mosqueiro y esto significó un entrampamiento para el viaje, puesto que no tenían permiso oficial para el vuelo sobre la Guayana Francesa y no había una pista suficientemente larga para despegar con la cantidad de combustible necesario para llegar hasta Venezuela. Para empeorar las cosas, una crecida del río Amazonas redujo aun más el espacio disponible.Como resultado de esto, Pinillos y Zegarra iniciaron el retorno a la patria por vía fluvial después de desarmar el "Perú" y despacharlo por barco hacia Nueva York.”

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O avião “PERU” na praia do Chapéu Virado (1929).

“Na cidade de Belém do Pará não havia aeroporto e o pouso ocorreu em um campo improvisado na praia "Chapéu Virado", na ilha de Mosqueiro e isso significava uma armadilha para a viagem, pois eles não tinham permissão oficial para o vôo sobre a Guiana Francesa e não havia uma pista longa o suficiente para decolar com a quantidade de combustível necessário para chegar à Venezuela. Para piorar a situação, uma cheia do rio Amazonas reduziu ainda mais o espaço disponível. Como resultado, Pinillos e Zegarra começaram o retorno à pátria por via marítima, após desarmar o "Peru" e enviá-lo de barco até Nova York.”

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Carlos Martinez de Pinillos.

Durante alguns anos, o aviador peruano Carlos Martinez Pinillos realizou vôos comerciais da companhia Air Co. Pinillos, viajando por todo o país, transportando passageiros e fazendo voos de demonstração nas cidades onde eles nunca tinham visto um avião. Em 1927, iniciou o projeto de um voo internacional que culminaria com uma volta completa na América do Sul. Para realizar o voo, foi escolhido um Bellanca CH-300 Pacemaker, monoplano de asa alta alimentado por uma Wright J-5-220 HP, que lhe permitiu atingir uma velocidade de cruzeiro de 150 km / h, com um máximo de 185. Ele tinha três tanques de combustível com capacidade para 345 litros de gasolina que permitiu uma autonomia de voo de 25 horas (aproximadamente 3,800 milhas) e uma válvula de liberação rápida em caso de emergência. Pinillos solicitou o reforço do trem de pouso para cargas pesadas e dos freios das rodas e iluminação completa para voo noturno. O avião foi denominado "Peru” e teve a fuselagem pintada de verde-escuro e as asas, de amarelo-alaranjado.

O “Peru” alçou voo da cidade de Lima na manhã de 11 de dezembro de 1928 e, para chegarem à ilha do Mosqueiro, os destemidos aviadores realizaram as seguintes escalas: Ilo, Santiago do Chile, Buenos Aires, Montevidéu, Rio de Janeiro, Bahia, Natal e São Luís. Da ilha do Mosqueiro até Nova York, viajaram por mar e, finalmente, no dia 27 de maio, partindo de Nova YorK, iniciaram a segunda etapa da aventura, que terminaria no dia 25 de junho de 1929, quando o pequeno avião pousou na Capital do Peru, às 9h e 20min..

A recepção aos aviadores no final da viagem foi grandiosa. Carregados nos ombros pela multidão, foram condecorados e receberam muitos prêmios e felicitações. Na fuselagem do avião, foram pintados os escudos de todos os países que os peruanos visitaram durante a viagem.

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Recepção aos aviadores peruanos em Lima.

Infelizmente, esse aparelho, que deveria estar em um museu, não existe mais. Após ter sido vendido ao aviador civil Juan Pardo de Miguel, que, por sua vez, o negociou com o piloto Fiurman Herman, o “Peru” teve um fim trágico, levando à morte o seu terceiro dono. Ao ver os destroços do histórico avião, Pinillos declarou: "Cuando ví al que había sido el "Perú", convertido ahora en pedazos desgarrados de violencia, en fierros retorcidos de indignación, en cenizas de aburrimiento y de pesar, la tierra se abrió a mis pies...”.

   
   

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Do histórico avião, só restam as fotos.

Disponível clip_image009m

MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- p 439. clip_image010

http://moskowilha.blogspot.com/2010/06/carlos-martinez-de-pinillos-1895-1947.html#links

http://www.aeroclubperu.org.pe/socios/pinillos.html. Acesso: 07 jan. 2011.

     
     

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