quinta-feira, 25 de novembro de 2010

NA ROTA DA HISTÓRIA: A PADROEIRA DA ILHA

A devoção a Nossa Senhora do Ó começou em Toledo, na Espanha, no ano de 656 d.C., por ocasião do X Concílio presidido por Eugênio II, bispo metropolitano, quando a festa da Anunciação foi transferida para o dia 18 de dezembro. Ao assumir o cargo, Santo Ildefonso manteve o mesmo dia para a festa, porém mudou o nome para Expectação do Parto da Beatíssima Virgem Maria. Segundo o Padre Martinho da Silva, foi o próprio povo que substituiu o nome de Nossa Senhora da Expectação, criando a denominação de Nossa Senhora do Ó, a partir da exclamação que introduz as antífonas maiores sempre proferidas nas vésperas do Natal: Ó sabedoria do Altíssimo; Ó Adonai, guia da casa de Israel; Ó Raiz de Jessé; Ó Chave de Davi; Ó Emanuel, Deus Conosco; Ó Rei e Senhor das Nações e Pedra Angular da Igreja; Ó sol da manhã, ó sol da justiça.

Em Portugal, conforme narra Frei Agostinho de Santa Maria, essa devoção mariana teria começado em Torres Novas, por volta de 1148, época de D. Afonso Henriques, o primeiro rei português, o qual reconquistou essa povoação, que estava sob o domínio árabe. Naquele momento, uma antiga imagem de Nossa Senhora da Expectação, a Rainha dos Anjos, passou a ser venerada na Capela-mor da Igreja Matriz de Santa Maria do Castelo, com o nome de Nossa Senhora de Almonda (referência ao rio que banha aquela povoação). Em 1187, quando reinava D. Sancho I, a Santa era conhecida como Nossa Senhora de Alcáçova, por ter sido achada em uma gruta onde os cristãos a esconderam assim que a região foi dominada pelos mouros (árabes). Somente em 1212, no reinado de D. Afonso II, quando se lhe construiu um novo templo, a imagem passou a ser chamada de Nossa Senhora do Ó, que, atualmente, é a padroeira de dezessete freguesias portuguesas.

No Brasil, o culto iniciou-se em Olinda, na Capitania de Pernambuco, com o donatário Duarte Coelho. Fundada a vila, ergeu-se a Igreja de São João Batista, onde era venerada uma imagem de Nossa Senhora da Expectação ou do Ó. Conforme descrição de Frei Vicente Mariano, tratava-se de uma imagem pequena com cerca de dois palmos de altura, entalhada em madeira e estofada, de autoria e origem desconhecidas. A tradição assinala 28 de julho de 1719 como o dia em que os olhos da imagem verteram lágrimas, fato registrado como milagre. A partir desse fato e dessa imagem, a devoção se espalhou e várias cópias foram levadas para outros lugares como a ilha de Itamaracá e São Paulo. Nas terras pauistanas, as imagens eram veneradas na casa da família de Amador Bueno e na do bandeirante Manuel Preto, o qual fundou a igreja e o bairro bem conhecidos até hoje. Os bandeirantes, por sua vez, levaram a devoção para Minas Gerais e, em Sabará, foi erguida a magnífica Capela de Nossa Senhora do Ó em estilo indo-português.

Na Região Norte do Brasil, Nossa Senhora do Ó é a padroeira da ilha do Mosqueiro, localizada no delta amazônico. Provavelmente, essa devoção religiosa chegou com os padres da Companhia de Jesus, ordem religiosa de origem espanhola, e, mais tarde, seria difundida pela Confraria que administrava a única igrejinha do local.

A denominação de Freguesia de Nossa Senhora do Ó para as terras da ilha, dada em 1868, parece revelar a imensa relação entre o Mosqueiro e a sua Santa Protetora, uma relação mais antiga – acreditamos -- que a devoção da Irmandade local ou o trabalho catequético dos jesuítas da Missão Myribira. Talvez seja oriunda dos primeiros tempos de ocupação. Sabe-se que a devoção a Nossa Senhora do Ó teve início na Espanha e, segundo o historiador João Lúcio D’Azevedo, há fortes indícios de que aventureiros espanhóis sob o comando de Francisco de Orellana estiveram na Baía do Sol, em 18 de dezembro de 1545, exatamente no dia consagrado à Santa, conforme relato do Frei Gaspar de Carvajal, escrivão da viagem.

As imagens de Nossa Senhora do Ó revelam o seu adiantado estado de gravidez. A mão esquerda encontra-se espalmada sobre o ventre, assim como, em alguns casos, ocorre com a direita. Algumas imagens mostram esta mão levantada ou segurando um livro aberto ou uma fonte, símbolos que significam a fonte da vida. Em Portugal, as imagens eram esculpidas, geralmente, em pedra e, no Brasil, em madeira ou argila. No começo do século XIX, muitas imagens de Nossa Senhora do Ó foram trocadas pela imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição ou pela de Nossa Senhora do Bom Parto, cujas vestes de freira disfarçavam o ventre avantajado. Mudanças no culto mariano que estimularam o dogma da Imaculada Conceição e um moralismo exacerbado acabaram retirando de muitos altares aquela Santa em estado de adiantada gravidez. E foi, sob o altar de diversas igrejas, que se encontraram enterradas imagens antigas da Santa, quando, no final do século passado, ressurgiram a discussão e a pesquisa sobre o assunto.

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N. Srª do Ó- Catedral de Évora, Portugal. Imagem antiga na ilha do Mosqueiro.

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Nova Imagem de Nossa Senhora do Ó:

No dia 05 de outubro de 2008, às 19h30, na Igreja Matriz, abrindo a Semana Comemorativa aos 140 anos de fundação da Paróquia, foi apresentada pelo então pároco Pe. José Maria da Silva Ribeiro e abençoada pelo Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Orani João Tempesta, a nova imagem de Nossa Senhora do Ó, a qual representa uma visão da Mãe de Jesus diferente da tradicional, porém sob a luz das Sagradas Escrituras. Sem dúvida, é uma inovação no culto mariano surgida na ilha do Mosqueiro, uma imagem que aproxima a Virgem Maria de todas as mães, para as quais é exemplo de amor e disponibilidade, elementos essenciais à base familiar.

Com 60 centímetros de altura e peso de 4,194 Kg, a imagem foi esculpida em cedro pelo artista plástico Afonso Falcão de Oliveira e apresenta aspecto físico de uma jovem mulher gestante (Maria aos 15 anos), nos seus últimos dias de gravidez (18 de dezembro: uma semana antes do Natal). O objetivo é retratar a alegria da proximidade do parto. O ventre dilatado assume a forma da letra “O”, o símbolo do infinito (Ela é a Mãe do Infinito.) e dentro do ventre da Virgem Maria estava a Palavra (“E a Palavra se fez carne e habitou no meio de nós.” (Jo, 1,14). Os cabelos longos e caídos sobre os ombros são um gesto de reverência para com o Senhor, ao qual se colocou inteiramente disponível: “Eis aqui a Serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Vossa Vontade.” ( Lc 1, 38).

As vestes reproduzem de forma estilizada o traje típico das jovens da Galileia. Na túnica, predomina o dourado, com detalhes em branco e pedras preciosas (a pureza e a realeza do Filho de Deus). O Sol impresso à altura do ventre simboliza o próprio Messias, de quem falavam os profetas e os evangelistas: “Levanta-te, resplandece, pois chegou a tua luz, e a glória do Senhor brilha sobre ti! Sim, as trevas envolvem a Terra e a escuridão, os povos, mas sobre ti brilha a luz do Senhor, sua glória sobre ti se manifesta.” (Is 60, 1 – 2); “Festeja, filha de Sião! Grita de alegria, filha de Jerusalém! Aí vem o teu rei: ele é justo e vitorioso, humilde, ...” (Zc 9, 9); “Graças ao coração misericordioso de nosso Deus, o sol do alto nos visitará, para iluminar os que estão sentados nas trevas e nas sombras da morte, e dirigir nossos passos para o caminho da paz.” (Lc 1, 78 – 79). No manto que a envolve, o azul- marinho (a grandiosidade do amor de Deus como o mar) e o vermelho (o sacrifício de Jesus na cruz, sinal de nossa redenção). Em seu antebraço, o azul-celeste simboliza a nossa meta: o Céu, destino do cristão batizado que segue Jesus (“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida!”). A imagem não traz a coroa, pois representa Maria ainda em estado de gravidez, portanto na condição humana e terrena. Vale ressaltar que a Coroação da Virgem Maria como Rainha foi realizada pela Igreja Católica somente após a sua Assunção ao Céu.

É inegável que a nova imagem da Padroeira dos Mosqueirenses é um exemplo de modernidade, de ação pastoral inovadora da Igreja na Ilha. Humanizando a Santa, aproxima-a de todas as mães e de todos nós, porque a humanidade também tem o seu lado divino e Santos são os homens que sobrepujam as forças do mal, ultrapassando as barreiras do egoísmo, da ganância, do vício, da omissão, do materialismo, do ódio, do preconceito, da falta de amor e do falso moralismo.

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Igreja de N. Srª do Ó e Pe. José Maria Ribeiro.

FONTES:

http://www.fundacaonazare.com.br/voz/ler.php?id=1418&edicao=4 http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_(m%C3%A3e_de_Jesus) http://pt.wikipedia.org/wiki/Nossa_Senhora_do_%C3%9 Augusto de Lima Júnior, 'História de Nossa Senhora em Minas Gerais', Imprensa Oficial, Belo Horizonte, 1956, pp. 255-265. Nilza Botelho Megale, 'Invocações da Virgem Maria no Brasil', Editora Vozes, Petrópolis, 1998, pp. 351-356.

Participe do CÍRIO DE NOSSA SENHORA DO Ó (Ilha do Mosqueiro), no dia l2 de dezembro de 2010.

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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Ser Professor...

 

O pior desrespeito que um ser humano pode ter com seu semelhante é negar-lhe a esperança de transformação quando nas mãos do primeiro está a possibilidade desta. Sou professor e orgulho-me da escolha que fiz.

Repostado a partir do Blog Desafe.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

CANTANDO A ILHA: SOUVENIR DO CHAPÉU VIRADO

(Texto transcrito do livro “Mosqueiro Ilhas e Vilas”)

Folheto impresso em Paris sob o nome de “Souvenir do Chapéu Virado”, organizado pelo Sr. Pires Teixeira, publica e divulga as principais edificações daquele bairro, citando seus locais e seus proprietários. O raro documento é datado de 1907. – Nos foi cedido pelo seu genro eng. Waldemar Chaves. O folheto tinha a função de exaltar o Chapéu Virado daqueles tempos, no começo do século. Arthur Pires Teixeira foi ali um de seus grandes pioneiros e assim se refere à beleza do Chapéu Virado:

“... é um simples suburbio da florescente villa do Mosqueiro, que, como é sabido, dista poucas milhas, apenas, da Capital do Estado. É, portanto, o que muitos conhecem: um excelente logradoiro a 20 minutos de bond da villa; a 20 minutos de bond porque é servido por uma linha desses veículos, de que é concessionário o conhecido industrial Snr. Pindobussú de Lemos. Ora, o nosso preferido retiro permaneceria como muitos, desconhecido e conseguintemente abandonado, se o homem para alli não fosse attrahido de certa forma, já pelo ardente desejo de aspirar um oxigenio puríssimo, já pela absoluta necessidade de um pouso ameno, onde se pudesse furtar ao bulício das cidades mais ou menos agitadas; se, finalmente, o homem alli não construísse elegantes e confortaveis vivendas, traçadas em chalets de multiplas e bellas formas. E o próprio elemento estrangeiro o procura, o prefere, parecendo-nos conducentes todas essas circunstancias. No “Chapeo-Virado”, emfim, parece que a natureza baila eternamente; sim, baila eternamente – ou não escutassemos ahi, a todos os momentos, o canto mavioso do passaredo em doce concerto com o mystico harpejo que emana d’esse milhão de beijos do mar sanhudo numas adoraveis areias, que dessas, muito brancas, é a longa praia do nosso sympatico “Chapeo-Virado”. E poder-se-á, ainda, negar a poesia da solidão, o encanto de uma vida docemente bucolica? Ahi ficou a descrição do Chapeo-Virado para onde machinalmente nos vamos conduzindo, onde (sem querer talvez) vamos ficando, vamos ficando...”

(Meira Filho, Augusto -- “Mosqueiro Ilhas e Vilas”, Grafisa Ed., 1978, pp 46, 49)

JANELAS DO TEMPO: Uma paixão: Mosqueiro

Autora: Juliana Oliveira

“Amor e dedicação ao extremo. Arthur compôs músicas e escreveu artigos relatando as belezas da ilha.

Uma época em que o ritmo do tempo era ditado pelos apitos do navio Almirante Alexandrino, da Usina Elétrica da ilha e pelas badaladas do sino da igreja matriz de Nossa Senhora do Ó. Foi durante este período, que o chalé Porto Arthur tornou-se referência na ilha, não só graças à beleza da edificação, mas pela figura responsável por ele: Arthur Pires Teixeira.

Os amantes mais antigos da ilha, filhos e netos dos contemporâneos de Arthur, relatam emocionados os modos de viver daquela época, em que a cultura paraense era tecida por meio de intercâmbio direto com a européia, honras do advento da borracha.

A construção do Porto Arthur data de aproximadamente 1905, erguido a mando do comerciante Arthur Pires Teixeira. O casarão foi um dos pioneiros naqueles lados. Filho de portugueses, começou a trabalhar muito cedo nos negócios do pai. Ao entrar na mocidade, apaixonou-se pela ilha de Mosqueiro, localidade a qual se dedicou, com benfeitorias e declarações de amor.

O afeto foi materializado em músicas, artigos escritos para conhecidos na Europa e a publicação de um álbum de fotografias da ilha. Nas correspondências, ele relatava todo o encanto de Mosqueiro.

De acordo com a filha de Arthur, Dona Mariinha Pires Teixeira Chaves – hoje com oitenta anos – o relógio francês que fica no mercado municipal de Mosqueiro pertencia ao pai. Segundo ela, o pai era um homem muito generoso e culto, devido ao estreito contato do Pará com o velho mundo naquela época. Arthur cedeu parte de seu terreno para construção de uma rua nas proximidades do chalé.

A capela que fica na praia do Carananduba foi erguida por ele. Arthur também foi o responsável pela construção do único cinema da história de Mosqueiro: o cinema Guajarino. Dona Mariinha lembra saudosa de quando saíam de charrete para assistir às sessões no cinema. “Nós víamos filmes norte-americanos muito românticos ou os famosos faroestes. Mas no final da década de trinta... início de quarenta, o cinema não existia mais”, lamenta.

Tais gestos lhe renderam algumas homenagens: a antiga praia do Covão recebeu o nome “Porto Arthur”; a travessa que passa ao lado do chalé ganhou o nome “Pires Teixeira”; a estação rodoviária da ilha e a praça do bairro do Carananduba receberam o nome de “Arthur Pires Teixeira”.

As festas no Porto Arthur eram memoráveis em toda a ilha. Pianistas de Belém eram levados para se apresentar nos saraus. Dona Mariinha diz que as melhores lembranças de sua vida estão lá: “cada cantinho daquela casa guarda lembranças muito preciosas. Meu pai e eu sempre gostávamos de ver aquela casa muito cheia. Meus filhos a freqüentavam e meu marido adorava a ilha”, relembra.

Arthur Pires Teixeira morreu no ano de 1961, mas seus ideais permaneceram na família. O esposo de Mariinha, Waldemar Lins de Vasconcelos Chaves, tornou-se outro entusiasta, herdando o fascínio pelos chalés. O pai de Mariinha deixou a casa que morava em Belém de herança para ela. Para as duas irmãs, o chalé em Mosqueiro. “Mas elas foram morar no Rio de Janeiro e o venderam para o meu marido. Desde então, ele cuidou da casa com muito esmero. Depois da morte dele, em 1994, o nosso filho mais velho assumiu os cuidados da casa”, lembra Mariinha.

(Oliveira, Juliana- “Uma paixão: Mosqueiro” in __ Revista Ilhas Amazônicas: o arquipélago de Mosqueiro – parte 1, Ed. 01, JAN 2006)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A OUTRA FACE DA ILHA: DE NOVO OS CASARÕES

 

Deu no Amazônia:

Edição de 07/11/2010

   

 
   

Em Mosqueiro, Construções do século passado estão caindo

Noely Lima

Da Redação

Casarões e chalés históricos do distrito de Mosqueiro passam por um triste processo de degradação. Sofrendo com a ação do tempo, os casarões da ilha estão em estado de abandono e servindo de abrigo para a marginalidade da área. Um dos casos que mais choca os que se preocupam com a preservação do rico conjunto arquitetônico da ilha é o caso do antigo educandário Nazareno, localizado na orla da avenida Beira Mar, próximo à praia do Bispo.

A ação do tempo, aliada ao abandono do poder público, transformou o espaço em um dos maiores exemplos do descaso com o patrimônio histórico na ilha. Com as paredes rachadas e a estrutura do telhado toda comprometida, o prédio ainda preserva o brasão da Prefeitura Municipal de Belém, que o identifica como um prédio público. Tamanho o abandono do imóvel, que a edificação está sustentada apenas por troncos de árvores que cresceram no interior do casarão. "Pelo menos não corre o risco de desabar, pois os troncos das árvores estão segurando o prédio. Hoje a área externa do imóvel serve para o pasto, pois tem sempre um cavalo amarrado na área. Recordo do período em que essa área era ocupada pelos estudantes do educandário. É uma situação lamentável e muito triste", declarou o comerciante Mário Augusto Costa, que reside há 30 anos na ilha.

Nascido e criado na ilha de Mosqueiro, o morador Edmilson Macedo dos Santos lamenta o abandono em que se encontra o antigo educandário. "Este imóvel faz parte da minha história, pois estudei e morei neste prédio na época em que ele abrigava o educandário das freiras. Depois que a irmã responsável pelo colégio faleceu, os estudantes tiveram que deixar o local. Vejo este abandono com muita tristeza, pois é um patrimônio que guarda parte da história de Mosqueiro", declarou o morador, enquanto observava o que restou da estrutura do prédio

Segundo ele, o casarão está abandonado há mais de 20 anos e hoje serve como abrigo de marginais. "É uma situação lamentável, pois o prédio poderia ser revitalizado para abrigar uma biblioteca pública. É um espaço excelente e bem localizado e seria o local ideal para o projeto de uma biblioteca pública ou outro espaço cultural. Seria uma forma de preservar o patrimônio histórico e beneficiar os moradores da ilha, que ganhariam um espaço de leitura", argumentou o morador.

De acordo com Ana Esmeralda Medeiros, diretora da biblioteca Avertano Rocha, o casarão do educandário está destinado para a construção de uma biblioteca. "O projeto existe e estamos em fase de finalização. O repasse ao município já foi feito e a construtora responsável pela obra já foi escolhida. A expectativa é de que no início de dezembro a obra comece. A intenção é a de entregar o espaço pronto até março de 2011", afirmou Esmeralda.

Localizado na orla da praia do Porto Arthur, o casarão Briconly ainda se mantém em pé, apesar do adiantado estado de degradação. A estrutura original do imóvel datado da primeira metade do século XX já começa a ruir. Impossível passar indiferente à arquitetura do chalé, já que o casarão fica localizado na orla da avenida Beira Mar. "É o retrato da falta de vontade do poder público municipal, pois a revitalização do patrimônio arquitetônico de Mosqueiro é dever do município, já que esta ilha é um distrito de Belém", observou a aposentada Ana Amélia Santos, que reside há 50 anos na praia do Murubira.

"Manter um prédio histórico não é fácil"

Um paraíso arquitetônico localizado às margens da quase desconhecida praia do Bispo. O Canto do Sabiá é um dos mais importantes casarões no centro histórico de Mosqueiro. Construído no início do século XX em estilo germânico, o casarão até hoje conserva o amarelo das paredes e o verde das grades. Em meio ao amarelo desbotado das paredes e outras relíquias, uma velha escadinha de madeira leva diretamente ao rio. "Esse imóvel pertenceu ao meu avô, que passou ao meu pai e hoje estou tentando preservá-lo. Cheguei a morar aqui, mas depois me mudei para Belém com a família. Atualmente, minha sogra está residindo no local", declarou Andreas Krueger, proprietário do imóvel. Segundo ele, a falta de recursos financeiros é um dos principals entraves na preservação do patrimônio. "Manter um prédio histórico como este não é nada fácil, pois os custos são altos, já que não podemos fazer modificações na estrutura externa. O material original utilizado na construção é caro, pois se trata de um imóvel de origem alemã. Apesar de todas as dificuldades, estou tentando buscar apoio para preservar o espaço. Confesso que as dificuldades existem, mas já conseguimos algumas parcerias, como com a PMB, que está fazendo uma limpeza em toda a área de jardinagem do casarão", comentou Krueger.

Os danos causados pelo intenso tráfego de veículos no entorno do imóvel também foi destacado pelo proprietário como um ponto negativo. "O impacto na estrutura do prédio é inevitável, pois o Canto do Sabiá fica localizado justamente no final da rua Nossa Senhora do Ó, que é uma via com fluxo de veículos intenso em direção à vila. Não há dúvidas de que o tráfego de veículos pesados vem abalando o casarão, pois se trata de uma estrutura com mais de 100 anos", relatou.

Restauração passa pelas três esferas

A maioria das edificações data da primeira metade do século XX, com modelos copiados da França, Alemanha, Suíça e Bélgica. Grande parte dos chalés está concentrada na orla das praias do Chapéu Virado, Farol e Murubira.

Mas o abandono dos casarões não é um problema encontrado apenas na orla da avenida Beira Mar. Na esquina da rua Coronel José do Ó com a travessa Pratiquara, na Vila de Mosqueiro, um casarão em ruínas chama a atenção.

A estrutura do prédio ainda preserva os azulejos portugueses, escondidas entre o mato e o lixo que toma conta do interior do prédio. "Há vários objetos roubados escondidos aí dentro, pois os bandidos utilizam este espaço para guardar roubo", declarou o açougueiro Milton Amaral, que reside próximo ao casarão. "Lembro da época em que este imóvel ainda possuía moradores. Não sei o motivo do abandono, pois é um prédio que poderia ser recuperado para servir de moradia ou até mesmo para abrigar um comércio", completou o açougueiro.

De acordo com a assessoria de comunicação da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), a restauração dos casarões e chalés privados de Mosqueiro é de competência dos proprietários dos imóveis. Segundo a assessoria, para fazer qualquer obra nos casarões é necessário que o proprietário encaminhe projetos ao Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) das três esferas, federal, estadual e municipal.

A prefeitura de Belém faz uma análise prévia do projeto e acompanha as intervenções feitas pelo proprietário. A maior preocupação é a de preservar a estrutura original do prédio.

Postado por PT de Mosqueiro em 16.11.2010.

http://ptdemosqueiro.blogspot.com/

MOSQUEIRANDO: Acreditamos que, com essa resposta, a FUMBEL já lavou as mãos há muito tempo. De repente, com tanta burocracia, até Parece História pra boi dormir. Os casarões são propriedades privadas, mas o patrimônio histórico que eles constituem pertence a todos nós. Inegavelmente, são marcos de uma era na História do Pará e, como tais, devem ser também responsabilidade do Poder Público. Afinal, quantas empresas privadas o Governo tem ajudado ao longo dos anos? Por que não ajudar os proprietários dos chalés nessa difícil missão? Será um bom uso para o dinheiro público! Caso contrário, só vai perdurar a fama que o brasileiro tem de não valorizar e preservar o seu patrimônio histórico!

NA ROTA DA HISTÓRIA OS PRIMEIROS VERANISTAS

(Texto extraído do livro Mosqueiro Ilhas e Vilas, de Augusto Meira Filho)

Autor: Augusto Meira Filho

“Foi desse grande amor, quantas vezes, de amor estranho aos fundamentos da região, que Mosqueiro recebeu seus primeiros impulsos de progresso. De velhos lusitanos, teria, exemplarmente, na povoação que se formava, a mão carinhosa, a dedicação singular de um luso trabalhador e admirável: Arthur Pires Teixeira. Liderou movimento para a construção do ferro-carril à tração animal, edificou Cinema, Mercado, Lojas e várias casas de praia no correr do velho Chapéu-Virado! Editou jornal, imprimiu revistas de divulgação do Chapéu-Virado, em Paris, deu tudo de seu e de sua fortuna, a favor do desenvolvimento do Mosqueiro. Sua residência e de sua família, ainda hoje é uma das mais belas construções da Ilha: o “Porto-Arthur”. E quantos outros, em paralelo, de procedência igualmente portuguesa, deixaram ali marcada a sua contribuição pessoal a favor do crescimento da Vila e de outras plagas da Ilha. Construindo hotéis, edificando casa de negócios, mantendo sítios, instalando empresas, todos, em um só pensamento, serviam ao Mosqueiro e à sua prosperidade.

Esse esforço fundamental precisa ser lembrado com eloquência!

Antes de sua era moderna, propriamente dita, Mosqueiro desfrutava do prestígio de diversas famílias importantes de Belém que, além de possuírem suas residências nas praias da Ilha, carreavam muita gente da elite para conhecer e passar alguns tempos, no doce convívio que o Mosqueiro permitia desfrutar. Dessa forma crescia o interesse da população e novos freqüentadores procuravam se fixar, também no correr do Chapéu-Virado, na Vila ou em lugares mais distantes.

O transporte fluvial de velhas companhias particulares e do Estado, mais tarde, supridas pelas embarcações mais novas da “Port of Pará”, dariam chance a que o belenense tomasse melhor conhecimento do Mosqueiro. Este, por sua vez, atraía o povo nos dias facultados, nos fins-de-semana, nos feriados, permitindo, assim, um crescente fluxo de gente para as praias, que começavam a ser as preferidas do paraense fixado na capital.

Cedo, famílias numerosas e de destaque se instalaram na Ilha. Na Vila, por exemplo, os Frazão, os Cacela, os Condurú, os Bitar, os Fechter, os Coró, os Canelas e muitos outros seriam, realmente, a representação da Vila. Na residência Coró, ou melhor, do Sr. Antonio Sousa Filho, far-se-iam as mais belas serenatas, os mais concorridos saraus, ao tempo em que o bondinho estava em voga e “ir à chegada do navio às seis horas”, na rampa da ponte, era ponto obrigatório da mocidade e de quantos desejavam receber veranistas que chegavam cansados, aborrecidos, fatigados da viagem penosa, sob o calor equatorial dos trópicos!

Palmas e assovios, gritaria e vaia recepcionavam, diariamente, todos que aportavam no trapiche e avançavam para a cidade em busca de transporte que os levasse ao Chapéu-Virado, ao Farol, ao Murubira e Ariramba. Oitenta por cento dos passageiros permaneciam na Vila. Principalmente gente nova. Rapazes e moças tinham, ali, seu éden!

Longe, pontificavam no Chapéu-Virado os Castro, os Dantas, os Franco, os Paiva, os Santos, os Marques, os Cardoso, os Kós e muitas famílias que formavam clãs inteiros, hoje disseminadas por toda parte.

No Murubira, após o núcleo dos Pires Teixeira, em Porto-Arthur, viviam, em suas mansões praianas, os Acatauassú Nunes, os Martins, os Chase, os Medrado, os Passarinho e tantas outras pessoas ligadas à elite paraense. Mais adiante, quando o mato ainda dominava a orla de Ariramba, marcava a sua presença, ali, religiosamente, os Lobo e os Cavaleiro de Macedo, os Andrade e os Costa, além de muitos que procuravam, naquelas regiões esquecidas, o prazer de um merecido repouso. Era o Ariramba a última estância que os ônibus da Prefeitura alcançavam, em sua linha normal.

No correr da praia do Bispo, às proximidades da “Praia Grande”, ficavam os Lúcio Amaral, os Kós, os Proença, os Cacela e, ao topo do velho caminho, a “Vila Faneca” onde se realizavam festinhas da juventude, serenatas, pastorinhas, de inesquecível lembrança. Mais adiante, as instalações dos Irmãos Maristas, verdadeiro parque em torno da moradia central onde os mestres repousavam às grandes férias ou aos dias de folga no Colégio, em Belém.

No “Clube Recreativo” cuja fama chegara às atenções da mocidade belenense, os jovens da época se misturavam com a nata mosqueirense e os folguedos, ali entravam pela madrugada, despertando pescadores e vigilengas que, no Areião ou na Ponte, começavam a gingar fora da costa em demanda do alto-mar ou da Baía do Sol, para os serviços rotineiros da pesca diária.

Sinos do velho templo da Senhora do Ó já chamavam os fiéis para a santa missa domingueira, quando notívagos seresteiros cantavam ainda, na Praça, ou se perdiam pelas ruas que os levavam à praia Grande. Mosqueiro sempre foi uma ilha romântica, principalmente, para uma população encharcada como a de Belém, presa entre suas baixadas e seus igarapés ribeirinhos, sem a facilidade que a Ilha do Mosqueiro proporcionava em sua paisagem e em sua beleza!”

(Meira Filho, Augusto“Mosqueiro Ilhas e Vilas”, Grafisa Ed., 1978, PP. 80, 81, 82).

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Praia do Chapéu Virado, 1907 (FONTE: “Mosqueiro Ilhas e Vilas”).

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Vivenda Porto-Arthur (FOTO: Regina, “Mosqueiro Ilhas e Vilas”, 1978).

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Veranistas em 1940 (FONTE: Blog Haroldo Baleixe).

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Veranistas na praia – 1940 (FONTE: Blog Haroldo Baleixe).

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

CANTANDO A ILHA AMOR AO PRIMEIRO BANHO*

Autor: Prof. Lairson Costa

Trinta anos se passaram desde que te conheci.

Foi amor à primeira vista.

Fui conhecendo-te mais profundamente

E ainda mais te amei.

Em cada cantinho teu um quê de mistério.

De mãos dadas, passeamos pelas praias.

Primeiro o Areião. Como rolamos!

Depois, no Chapéu, ficamos de cabeças viradas.

Mas logo avistamos o Farol e prosseguimos a caminhada.

Passamos pelo Porto Artur, Murubira, Ariramba, São Francisco,

Carananduba, Marahu e Baía do Sol.

Levaste-me literalmente ao Paraíso e ali não resisti.

Entreguei-me totalmente a ti,

Minha bela Bucólica Mosqueiro.

Jurei para sempre te amar e, como prova,

escrevi estes versos que, como alianças,

vêm o nosso amor renovar.

* COSTA, LAIRSON. MOSQUEIRO, PURA POESIA. Belém: L & A Editora, 2005.

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Praia do Paraíso (FOTO: Gerlei Agrassar – 2010)

sábado, 13 de novembro de 2010

NA ROTA DA HISTÓRIA: O DESTINO DOS MOROBIRAS

Quando os jesuítas chegaram à ilha em 1653 e instalaram a Missão Myribira na aldeia chamada Mortiguara, os índios já estavam aqui. Há doze mil anos habitavam a região litorânea do Norte registrada em mapas antigos como a Província dos Tupinambás.

Às margens do rio-mar, na ilha do Mosqueiro, viviam os morobiras. Corpos nus bronzeados ao sol dos trópicos corriam ágeis pelas matas espessas atrás da caça farta, recolhiam as deliciosas frutas amazônicas, voavam corajosamente em suas igarités sobre as maresias em busca do peixe ou pontilhavam as areias das praias na prática da mariscagem ou do moqueio. Cultuavam o deus Sol em rituais ao amanhecer e, nos solstícios de verão e de inverno, realizavam grandes festas de agradecimento pela vida tranquila no paraíso banhado pelas águas doces, na foz do grande rio.

Um dia, enormes embarcações com velame enfunado pelo vento adentraram a baía. Eram barcos estranhos de estranha gente com ignotas armas. Pisaram as areias antes intocadas pelo homem branco. Atônitos, um misto de surpresa, curiosidade e receio estampado nas faces selvagens, os morobiras receberam os aventureiros com amistosidade e respeito, pois lhes pareciam mensageiros de um mundo irreal. Por muitas e muitas luas, a cena se repetiria nas sucessivas visitas de espanhóis, franceses, holandeses e ingleses, com os quais os indígenas praticavam o escambo, ou nas incursões de piratas e corsários em busca das Antilhas.

Até que chegou o conquistador luso. Apossou-se das terras, construiu um forte aos pés da baía de Guajará, expulsou os inimigos estrangeiros e começou a construir a cidade de Santa Maria de Belém do Grão-Pará. Os morobiras, como as tribos das proximidades, trabalharam muito, ajudando os invasores na construção e no abastecimento da cidade. Todo um século se passou, no qual a evolução e o progresso de Belém dependeram da força produtiva dos nativos. Os interesses mercantis e a necessidade de gerar riquezas levaram os portugueses a usar os índios como mão-de-obra escrava. Entretanto, muitos reagiam para defender suas terras e sua liberdade.

Então, muitas campanhas bárbaras foram empreendidas contra as nações tupis, exterminando milhares de indígenas. Vários comandantes militares e até figuras ilustres como o próprio Francisco Caldeira Castelo Branco participaram dessa destruição da vida selvagem. Triste exemplo dessa fúria desumana e assassina foi o massacre comandado por Bento Maciel Parente, desde São Luís do Maranhão até Belém do Grão-Pará, queimando aldeias e aniquilando centenas de tribos. Para quem gosta de aliar a imaginação à História, é curioso como a rota seguida pelo impiedoso e sanguinário Bento Maciel foi a mesma que os OVNIs-vampiros (os chupa-chupas) percorreram na década de 70, aterrorizando os ribeirinhos: baía de São Marcos em São Luís, região do Gurupi, Vigia de Nazaré, Colares, ilha do Mosqueiro e baía de Guajará.

Os índios morobiras também foram dizimados, triste retrato de uma época pintado pelo professor-poeta Alcir Rodrigues em seu emocionante poema “Morubiras”:

Morubiras ― o início do fim

Na camboa,
em meio à névoa
da manhãzinha preguiçosa,
o índio morubira
recolhe o peixe, o camarão,
o siri...
Os curumins-filhos o ajudam
nesse labutar cotidiano, sem muriçocas
para atazanar a paciência.

Cunhã-esposa, no estirão da areia
recolhe sementes
na companhia das cunhãs-filhas.
Também juntam tabatinga vermelha
para pintar o corpo
pra festa que aí vem.

O mar-baía, cinza...
O céu, cinza...
A névoa, branquidão
que oculta o bege
da areia praieira,
onde a lenha já está
distribuída enfileirada
em montes a espaços
pela extensão da enseada.

O verde renasce por trás
da brancura a se dissipar, aos poucos.
O guerreiro-pescador morubira
já sente antecipadamente
o cheiro do peixe no moqueio,
o sabor do beiju,
do peixe apimentado,
do cauim inspirador.
Seus sentidos todos despertos,
já antevê ali
seu povo em festa, cantando
e dançando feliz,
na realização de seus rituais.

Um trovão, dois, três e mais,
― com um ribombar repetido e assustador ―,
despertam de sua reflexão o índio.
Em um átimo, a paisagem
ganha espessas pinceladas de vermelho.
O mundo explode em sangue
diante do guerreiro: a tribo
covardemente atacada
― velhos, crianças, mulheres,
algumas grávidas,
atravessadas a espada, ou
já atingidas pelos tiros.

Sua família, sua tribo,
todos
vítimas de algozes gananciosos,
sedentos por terras,
e pelas riquezas que delas
se pode extrair.
Veloz, o guerreiro tupinambá
corre destemido rumo aos seus
e ouve um trovão ― não, não é de Tupã!
Dor, insuportável dor!...
Diante de seus olhos, a última visão:
o chão e a escuridão.

O nada destruidor passou a imperar
na Enseada dos Morubiras...
(Alcir Rodrigues)
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Disponível em: luizmalvino.blogspot.com.

http://moskowilha.blogspot.com/2010_05_01_archive.html

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

CANTANDO A ILHA CACHOS DE AÇAÍ

Autor: Graciliano Ramos

Eu te enrosco como um cipó que abraça

Me envolvendo neste corpo gentil

Um cão que rosna farejando sua caça

Um tucano fugitivo da fumaça

Sobrevoando este pedaço de Brasil.

 

Quando escuto este teu suave canto

E o chiado dos teus passos neste chão

O teu perfume seca o rio do meu pranto

A tua voz me desperta deste encanto

O teu sorriso afugenta a solidão.

 

Tu te embrenhas por esta noite calada

E a mim surges sem medo da escuridão

A mãe da lua canta para a madrugada

Chegas sorrindo como a flor desabrochada

E me estremeces com essa febre de paixão.

 

Minha morena no seio da mata virgem

Eu te espero no pé de taperebá

As retinas dos teus olhos me atingem

E teus cabelos negros de fuligem

Cachos de açaí onde canta o sabiá.

 

Mas me entristeces quando finda a madrugada

Fico pensando quando voltarás aqui

Desapareces na curva da longa estrada

A minha mente fica toda embaraçada

E amanheço com o cantar do bem-te-vi.

 

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Açaizeiros (FOTO: Wanzeller, 2010).

terça-feira, 9 de novembro de 2010

NA ROTA DO TURISMO: Bispo: o nome de uma praia

Autor: Prof. Alcir de Vasconcelos A. Rodrigues

Bem, faz bastante tempo atrás (umas cinco ou seis décadas, por aí assim, pró­ximo à praia localizada entre Areão e Praia Grande, no Mosqueiro [1], passaram a residir ali alguns religiosos da congregação dos maristas. Até hoje ainda fazem retiros espirituais naquela propriedade, que é imensa, bela e arborizada. Alguns religiosos tinham o hábito de, esporadicamente, fazer passeios naquela tímida enseada. Inclusive, a juventude, em sua imensa maioria, desconhece o fato de que o Círio de Nossa Senhora do Ó (padroeira dos mosqueirenses), em tempos agora remotos, saía da propriedade desses religiosos e seguia pela Beira-Mar, Rua Nossa Senhora do Ó, até a Praça Cipriano Santos, onde se localiza, até hoje, a Igreja de Nossa Senhora do Ó, destino lógico da imagem da Virgem.

É, das praias da Ilha, a que mais ostenta seculares e enegrecidas rochas, que, segundo quem professa fé afro-brasileira, emitem bons fluidos para a prática de rituais do candomblé, por exemplo. É lamacenta, pedregosa e dominada por verdejantes capinzais, refúgios de hostis arraias, que aterrorizam os banhistas. Essa praia apresenta algumas peculiaridades, como um extenso muro de arrimo ─ o mais antigo do balneário ─ a impressionante verdura dos vegetais das falésias, onde, um pouco próximo, ficam as imensas pedras Rei (a maior) e Rainha (a menor). Alguns moradores mais antigos da Ilha dizem que os nomes das legendárias pedras foram dados em homenagem ao imperador e à imperatriz (Pedro II e Teresa Cristina). Outra curiosidade é que, "dizque", se uma maré alta de março cobrir a enorme Pedra Rei, é sinal de que o mundo se acabará.

Na outra extremidade da praia fica a Ilha de São Pedro, onde existia uma monumental imagem do Santo Pescador. No centro, as escadarias duplas (à direita e à esquerda), com três lances de degraus ladeados por pilastras, com pracinha, com caramanchão (derrubado, para uma reforma jamais concretizada) e um velho e inativo canhão, além da extremamente exótica arquitetura germânica da mansão Canto do Sabiá.

Naqueles tempos quase imemoriais, contam, um dos religiosos, um tanto introvertido, solitário e esquisito, costumeiramente fazia passeios ao crepúsculo ali naquela praia, bem na beira, mesmo que fosse na vazante, quando as águas recuam por uma linha de, mais ou menos, uns duzentos metros. Para pescadores, ou quaisquer outras pessoas que por ali passavam, aquilo parecia-lhes sombrio e sinistro. Ficavam assombrados com aquele vulto negro a passear da Ilha de São Pedro às pedras Rei e Rainha. Segundo dizem, um clima desconfortante e constrangedor tomava conta deles.

Foi aí que em certa tardinha, em recuada época ─ quem sabe lá por uns vinte ou trinta anos após a morte do padre esquisitão ─ uma moça chamada Clarinha, que trabalhava em uma casa de família em frente à praia, como empregada doméstica, foi recolher a roupa do varal. Era de noitinha, já, o tal lusco-fusco, a chegada do claro-escuro confuso da hora da Ave-Maria. E foi aí que aconteceu: Clarinha, ao divisar no escuro uma estranha silhueta, ficou atônita, como que narcotizada, a ponto de um torpor enregelar-lhe corpo e mente. Apavorada, vislumbra uma aterradora aparição. Parecia flutuar. Era enorme, vestia como que uma batina, com chapelão típico de um clérigo. Ele foi passando, passando... e ela, estupefata, congelada, imóvel. Só minutos depois pôde recobrar o controle sobre si. Então, a história/estória se espalhou. Muita gente comentava. Talvez, principalmente em vista de não ser a moça a primeira a relatar essa aparição. Só que o estado em que ela se achava no momento, ao tentar contar para a patroa o "causo", concorria para dar veracidade ao seu relato.

De lá para cá, muitos afirmam ter deparado nas horas mortas com o sinistro clérigo. Daí, de padre a bispo, foi um pulo. E, com o passar das décadas, em vez de bispo, o que se passou a ver foi um bispo sem cabeça, mais apavorante, portanto.

Assim, a bela e melancólica enseada entre as praias do Areão e Praia Grande passou a ser conhecida como Praia do Bispo, ou, simplesmente, Bispo. "Vou lá na Praia do Bispo!" Ou : "Vou lá no Bispo!" ─ É o que dizem hoje os moradores do Mosqueiro.

(Este texto foi adaptado por nós a partir de conversa informal com três pessoas, a quem somos extremamente gratos: Joana Maria de Vasconcelos Rodrigues, Wolney de Vasconcelos Dias e Clarice Cabral Bahia.)

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/10394/1/Bispo-O-Nome-de-uma-Praia/pagina1.html#ixzz14Y7WeaFx

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Praia do Bispo (FOTO: Eduardo Anselmo-2010).

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Praia do Bispo (FOTO: Christopher Bahia, 2010).

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O Rei e a Rainha (FOTO: Edivaldo Caldeira, 1989).

domingo, 7 de novembro de 2010

CANTANDO A ILHA: REMINISCÊNCIAS

AUTOR: Augusto Meira Filho

“Mosqueiro é um permanente viveiro de pássaros que cantam acordando a madrugada e não se fazem esperar, melancólicos, à hora crepuscular, quando a vida entardece e adormece sob o canto melódico dos sabiás. Em nenhuma outra parte existem sabiás como os da ilha do Mosqueiro. No verão ou no inverno, as tardes caem silenciosas, quebradas, somente, pelo seu canto de despedida, amargurado, sempre, a dar a toda gente uma nostalgia de infância, uma saudade infinita da meninice vivida ali entre o céu e a terra, solta, distraída e livre dos problemas do homem, das torturas da humanidade.

Por isso aquela ilha tem algo de liberdade que se sente respirando sua aragem, caminhando nas estradas tortuosas, vivendo seus dias de sol aberto para o mundo ou enchendo a alma de melancolia, naqueles dias chuvosos em que a ilha parece mergulhada nas ondas do rio e o silêncio ponteia soberano a nos encher a alma de paz. Paz úmida e molhada das lágrimas que vêm do céu para abastecer o chão virgem e dar renovação e vida à natureza que lhe encanta os dias na primavera e no verão!

Há uma poesia qualquer perdida na quarta rua, ou no pratiquara, na ponta do maracajá ou na pedreirinha que atrai, prende, sufoca, domina nossos desejos, conduz nossos sentimentos, guia nossos passos em busca da felicidade!

È o Mosqueiro antigo, primitivo, dos tupinambás que renasce em seus segredos, mitos e fábulas, dando-nos o fermento do passado para alimentar o presente que, ás vezes, muito pouco sabemos preservar.”

(Meira Filho, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978, p. 82)

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FOTO: Janayna Lameira

sábado, 6 de novembro de 2010

NA ROTA DO TURISMO: PRAIA GRANDE DA BAÍA-DO-SOL

Um lugar existe onde, se tiveres a paciência de observar da praia a trajetória do Sol desde o nascente até o poente, poderás, com certeza, ver o astro-rei, em toda a sua plenitude, cruzar o céu a tua frente, sobre as águas que recebem o seu nome: baía do Sol. Ali, ele surge exuberante vindo de Colares (a antiga ilha do Sol dos tupinambás), segue incandescente espalhando seu calor tropical e, aos poucos, vai descambando magnífico para as bandas do Paraíso.

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O amanhecer na baía do Sol visto da ilha das Guaribas (FOTO: Edivaldo João Caldeira – 1989).

E essas águas que tantas vezes, ao romper da aurora, banharam os nativos levando suas oferendas, enquanto rufavam os tambores, também conduziram os bravos cabanos em fuga para Vigia e refletiram as luzes multicoloridas dos chupa-chupas, os OVNIs que, há mais de trinta anos, deslocavam-se pelo céu estrelado, aterrorizando o povo simples da região.

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Praia Grande da Baía-do-Sol (FOTO: Wanzeller-2010).

E a baía onde nasce e morre o Sol emprestou o seu nome à povoação mais antiga do Mosqueiro, o lugar onde se deu o primeiro contato do colonizador com os índios da ilha. Lugar simples, aprazível e acolhedor conserva ainda um ar bucólico e suas praias revelam uma beleza selvagem que encanta os sentidos, despertados pela carícia do vento e pelo beijo ardente do Sol.

Assim o poeta Othom Luiz Macedo (1993) nos descreve a Praia Grande da Baía-do-Sol: “Nos pequeninos grãos de areia da praia, o sol, qual um pintor, produz reflexos maravilhosos. Nas ondas que se espraiam, os tons luminosos nos deslumbram. As gotinhas que ficam parecem pedras preciosas de algum tesouro oculto no fundo do mar. As águas parecem nos acariciar. Nas verdes palmas dos coqueiros, diversos tons de verde brilham intensamente. A praia inteira é como uma explosão de luz, de cores, de vida. É Apolo que passa na sua carruagem dourada.”

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O pôr-do-sol ao lado da ilha das Pombas (FOTO: Ricardo, 2010- http // baíadosolsempre.blogspot.com/).

CANTANDO A ILHA: Declarando Amor por Mosqueiro

Autora: Profª Rosangela Gama

Pele morena queimada de sol

“Mosqueiro” transborda feminilidade,

Abrigas filhos, imigrantes, simpatizantes

Ou simplesmente amantes.

Teus braços de rios

Abraçam moradores e turistas

Encantados pelas belas praias,

Paisagens das trilhas,

Da graça da garça em voo rasante.

Paraíso/sorriso da morena cheirosa,

A passear nas bordas da noite

O respingo das águas da onda

Contra o muro de arrimo

A saudar para o cais, casais e solteiros.

Ainda posso te chamar de bela

E tranquila “bucólica”

Que apesar da idade

Estás ainda mais formosa.

(Lima Gama, Rosangela C. e Santos Andrade, Simei. “Mosqueiro Conta em Prosa e Verso o Imaginário Amazônico”. PMB, 2004, p. 84)

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FOTO: Janayna Lameira

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A OUTRA FACE DA ILHA: DE VOLTA AOS CHALÉS DA ILHA

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José Carlos Oliveira disse...

Chalés. Chalés de Mosqueiro, uma história que o tempo está apagando.
Nossas autoridades não pensam como nós sobre essa parte da história. E, como venho afirmando, somos os maiores culpados de permitir que isso aconteça. A história é nossa. É uma herança que a especulação está tomando conta. Pessoas interessadas em criar uma linha turística estão permitindo o abandono dos prédios da orla das praias do Porto Arthur, Chapéu Virado e Farol e, das orlas das praias da Baía do Sol, Paraíso e Marahú.
Tudo começou por volta do início do ano 2000, quando foi criada a intenção de transformar Mosqueiro num paraíso de imóveis com mais de 10 andares. Isso é verdade! A partir dessa idéia, empresários de outros estados estão avaliando áreas nobres da ilha para a construção dos prédios. Isso por culpa de empresas locais. Como já citei, as areias apresentam as melhores condições para isso. São recantos certos para esse novo paraíso: dos prédios de mais de 10 andares, que venham atender à idéia de implantar o turismo local. O tão sonhado turismo que dizem Mosqueiro apresentar e como a sua maior fonte de renda, se o mesmo for emancipado. Essa é a idéia principal e de interesse de muitos empresários, após a emancipação.

E pergunto: quem é contra e quem é a favor desse processo? E surge uma nova interrogação: quem é contra e quem é a favor da especulação imobiliária na ilha?Aparentemente isso é quase impossível, mas, na verdade, já começou há anos, muitos é que ainda não atentaram. O primeiro arranha-céu já existe no Chapéu virado e foi construído, não por fatalidade, mas por uma falha da lei e por autorização. Nada pode ser feito e ele está por lá. Quem ousa destruir?

Então, voltando ao assunto, como disse Augusto Meira Filho, em seu livro Mosqueiro, Ilhas e Vilas: "O Mosqueiro tornar-se-ia, durante longo período, abrigo de raras personalidades estrangeiras que procuram, ali, respirar melhor e deleitar-se com as belezas do lugar". E assim continua, "Suas praias lindas não divisam classes, não marcam prioridades, não estabelecem privilégios. Mosqueiro é um balneário popular, democrático, onde todo mundo se sente livre e igual". Essa foi a melhor parte da história e que trouxe os chalés para a orla das praias. O local ideal para suas construções. O local que, hoje, especula-se demolir, dando lugar a uma nova etapa.

Precisamos refletir sobre tudo isso, pois não é apenas um ou outro prédio que está abandonado ou sendo demolido, mas diversos. Caminhando do Farol ao Ariramba é possível visualizar essa nova realidade. Uma realidade que nos põe em conflito com o passado, com os herdeiros, com a tradição dessas famílias e com as nossas autoridades, pelo descaso histórico, além, claro, dos especuladores, que de alguma forma, estão estimulando o abandono e de olho no futuro, sem importar-se com essa parte que tanto nos interessa manter viva. Ou nos interessa manter apenas as imagens que circulam na internet, mundo afora? Acredito, fielmente, como defensor das boas idéias para um balneário melhor, que Mosqueiro precisa da minha, da sua, da nossa maior atenção, pois, hoje, somos poucos mosqueirenses. Mosqueirenses, mesmo, que amam esse local e lutam por um mundo melhor. Contribuindo com seu blog,
faço a inclusão das imagens de prédios que estão sendo destruídos.

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Ver blog: http://chalesdemosqueiro.blogspot.com

O MESMO TEMPO E O MESMO DESTINO: A DESTRUIÇÃO DOS CASARÕES

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

NA ROTA DA HISTÓRIA MAGALHÃES BARATA E A ILHA

NA ROTA DA HISTÓRIA

MAGALHÃES BARATA E A ILHA

(Trecho transcrito do livro “Mosqueiro Ilhas e Vilas”, de Augusto Meira Filho)

A INFLUÊNCIA DE BARATA-

Desde quando assumiu a Interventoria pela primeira vez, em 1930, o Major Barata teve interesse pelo Mosqueiro. Sempre procurou colaborar com as prefeituras sob o regime de seu poder político, de sua liderança partidária. No Governo ou fora dele, sua presença se fazia sentir na administração do Estado, faculdade essa que nunca renunciou. Mesmo distante, valendo-se de seus numerosos amigos, quando em Ipameri ou no Recife (depois de 1935) ainda assim tinha forças para influir na política regional que, durante quarenta anos, a ele esteve sujeita. Na segunda Interventoria, Barata manteve aquele desejo de emprestar à ilha do Mosqueiro um pouco de sua atividade oficial. Sua predisposição pelo lugar era inteiramente administrativa. Tal como operava no interior onde ele era estimado e venerado pela população simples dos sertões paraenses, o mesmo faria na ilha do Mosqueiro. Construiu escolas, postos médicos, abriu estradas, melhorou a situação do funcionalismo municipal e local e deu de si tudo para o engrandecimento do Mosqueiro.

Um dos fatos históricos que fixaram sua atuação ali foi o de entregar imensa área, no “Natal do Murubira”, aos japoneses, chefiados pelo Sr. Yoshio Yamada. Vimos, pessoalmente, de terra pedregosa e estéril, antes imprestável, colherem-se verduras e frutas, como se aquela gente operasse um verdadeiro milagre de fertilidade da região. Dali partiu Yamada para fortalecer seu esforço, hoje, coroado de êxito no comércio que deixou para seus herdeiros. Foi o próprio Barata quem no lugar deixou a critério do agricultor o uso da terra para seus trabalhos agrícolas. O japonês, chegado a Belém, procurara Barata para que lhe desse oportunidade de mostrar o que sabia em termos de agricultura. E assim ocorreu, achando o Interventor Federal que o local próprio seria na ilha do Mosqueiro. Conhecemos essa atuação e muitas vezes assistimos Barata dando instruções aos Agentes Municipais e aos Prefeitos de Belém para que cooperassem na obra de Yamada.

Eram gestos típicos do saudoso Governador.

Atendendo ao que o Prefeito Abelardo Conduru acertara com o Russo, proprietário do Hotel do Chapéu-Virado, não só pagou a prestação devida à reconstrução do prédio do hotel que incendiara, como o isentou de todos os impostos e passou a pagar, mensalmente, uma quantia certa para ajudar, na reconstrução, a permanência daquela casa-de-pasto no bairro do Chapéu-Virado, um dos mais visitados e importantes do balneário.

Contudo, Barata tinha verdadeira afeição por Salinas. Naquele tempo, ir a Salinas era ato de heroicidade. Ele mesmo conhecia vários caminhos e ensinava aos motoristas como desejava chegar às praias oceânicas. Sempre revelou-se admirador de Salinas, onde realizava melhoramentos como administrador e interessado nas belezas do clima e do mar, ao pé do vilarejo. Acreditamos que era esse o espírito de Barata em relação aos dois balneários.

Na esfera pessedista, propriamente dita, diversos governos realizaram benefícios à ilha do Mosqueiro. O velho problema de eletricidade nos bairros do Farol, Chapéu-Virado, Murubira e Ariramba recebeu melhoramento na administração estadual do Governador Luiz Geolás de Moura Carvalho. Quando à frente da Prefeitura Municipal de Belém, Moura Carvalho também deu início ao sistema de pavimentação asfáltica da Vila ao Chapéu-Virado e empreendeu diversos trabalhos na área da saúde e da educação. Na gestão do interventor Octávio Meira foi construída uma Escola Rural-Modelo, em obediência ao plano estabelecido pelo governo do Presidente Dutra de dotar as capitais e os interiores do País de um aprendizado agrícola. Também nas gestões municipais de Engelhard, Bouhid, Chermont e Manuel Figueiredo diversos serviços foram executados no Mosqueiro, cada qual na sua faixa de atividade a favor do progresso do velho e tradicional balneário, distrito de Belém.

Valerá ressaltar, na oportunidade, as obras de Alcindo Cacela, na Vila e as de Abelardo Conduru, no Farol. Essas se qualificaram por seu alto significado urbanístico e técnico. O primeiro salvou a fronteira da Vila, quando as marés ameaçavam todo o litoral dos barrancos na praia do “Bispo” e na Praia Grande. Na própria Vila, local próximo ao conhecido trapiche, foram feitos aqueles arrimos que até hoje perduram, garantindo os terrenos e dando melhor acabamento às áreas ribeirinhas das avenidas de beira-mar.

Depois deles, houve proficiente trabalho na primeira gestão do Prefeito Lopo de Castro, ao tempo da governança estadual em mãos do General Zacarias de Assunção.

O grande Mosqueiro, se assim o podemos agora classificar, surgiu, hodiernamente, com as administrações revolucionárias depois de 1964. A Estrada Belém-Mosqueiro que vivia castigada de um inconcebível abandono, teve, finalmente, sua conclusão confirmada, sua pavimentação asfáltica empreendida e tudo isso corroboraria para o êxito da ponte sobre o “Furo da Marinhas”, obras prioritárias que a Revolução levou a sério e as tornou realidade a partir do Governo Jarbas Passarinho, até ao (atual) de Aloysio da Costa Chaves, tendo, de permeio, a admirável decisão de Alacid Nunes e o labor magnífico e desinteressado, sério e decisivo do Engo. Fernando José de Leão Guilhon.

Hoje o Mosqueiro é uma ilha florescente. Seu desenvolvimento salta aos olhos e a população de Belém prestigia, aceita e reconhece o trabalho desses homens que nos têm dado verdadeiro testemunho de amor à terra.

O Mosqueiro não é mais aquela terra de esperanças, mas a própria esperança corporificada no trabalho constante da gente paraense. Urge creditá-la do louvor da láurea por tão grandes empreendimentos, a uma região rica, mas reconhecidamente pobre de recursos financeiros para atender às suas necessidades vitais. Palmas a quantos constroem a felicidade de nossa terra!”

(MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”, ED. GRAFISA, 1978, PP. 423, 424 e 427).

Muros de arrimo na Praça da Matriz construídos por Alcindo Cacela, hoje bastante modificados. Dizem que, futuramente, essas rampas serão removidas para “criação de espaço”. Esperamos que não seja verdade, pois esse ponto histórico e sua imagem serão deletados para sempre.

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FOTO ANTIGA CEDIDA PELA FAMÍLIA MATHIAS.

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FOTO ANTIGA CEDIDA PELA FAMÍLIA MATHIAS.