terça-feira, 19 de outubro de 2010

CURIOSIDADES: A VILA E SUAS RUAS

Apesar de não ter sido a primeira, a povoação localizada no sul da ilha do Mosqueiro foi a que progrediu mais rápido, pela proximidade da Capital da Província. Suas terras, que antes pertenciam a Benfica, passaram a constituir a Freguesia de Nossa Senhora do Ó, a qual foi elevada à categoria de Vila já no período republicano, indo à condição de Distrito de Belém no início do século passado. Essa evolução teve o seu primeiro momento marcado pela atividade pesqueira e pelo extrativismo vegetal, cujos produtos eram comercializados pelos nativos nos portos da cidade. O segundo momento, no final do século XIX, é caracterizado pela descoberta da ilha como balneário por estrangeiros e belenenses, que aqui construiram inúmeros casarões de veraneio, motivando o governo a executar, na ilha, uma série de melhoramentos, começando com a inauguração, em 1904, do bondinho puxado a burro, em 1905 do primeiro Grupo Escolar do Mosqueiro e, em 1908, do Trapiche da Vila construído pelos ingleses. Esse deslocamento turístico foi decisivo para o progresso da Vila, que em 1885 – segundo o historiador Manoel Baena – tinha apenas quarenta casas de telha e algumas de palha, uma praça, duas ruas, uma igreja pequena, um cemitério, três casas de negócios, duas padarias, duas escolas públicas, uma fábrica de fogos, um engenho de cana-de-açúcar movido a vapor, quatro olarias e mais ou menos quinhentos habitantes.

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A Vila do Mosqueiro (Fonte: Google Earth).

Nesse começo de urbanização, é curioso como são nomeados os logradouros públicos, principalmente as ruas, que vão surgindo uma a uma. De início, considera-se uma sequência espacial: se paralelas ao rio, são chamadas de 1ª Rua, 2ª Rua, 3ª Rua e assim por diante; se perpendiculares, travessas. Algumas vezes, os nomes procuram designar vias de acesso a algum lugar importante: Rua da Igreja, Rua do Grupo, Rua da Pedreira (acesso à Ponta da Pedreira), Travessa Pratiquara (nos velhos tempos, o acesso mais fácil ao rio de mesmo nome). Outras vezes, são elementos paisagísticos que sugerem os nomes: Rua dos Tamarindos, Travessa das Mangueiras, Rua dos Jambeiros. Por fim, o Poder Público escolhe datas, fatos ou personalidades que marcaram lugar na História, para que o povo não os esqueça facilmente.

A Primeira Rua, conhecida como Rua dos Tamarindos (vegetais frondosos de origem africana plantados em fila ao centro), passou a chamar-se Conselheiro Delamare e, depois, Juvêncio Gomes da Silva, uma homenagem ao primeiro Carteiro da ilha. Para homenagear a Santa Padroeira do Mosqueiro, marcando também a localização do seu templo, a Segunda Rua recebeu o nome de Nossa Senhora do Ó. A Terceira Rua ou Rua do Grupo lembra o Tenente Coronel José do Ó, considerado um dos fundadores da Vila do Mosqueiro. Enquanto a Quarta Rua assinala a data da Proclamação da República (Rua 15 de Novembro), a Quinta Rua recorda o nome do Padre Manuel Antônio Raiol, fundador da Vila e o primeiro Pároco do Mosqueiro, designado no dia 02 de abril de 1869 por Dom Macedo Costa, Bispo do Grão-Pará.

ATravessa Coronel Motta registra a passagem em nossa história do eminente político e Presidente do Partido Republicano do Mosqueiro Coronel Lourenço Lucidoro Ferreira da Motta. A Rua dos Jambeiros, assim chamada pela fila desses vegetais (jambo pêra) ali plantados entre a 2ª e 3ª Ruas, recebeu o nome de Avenida Getúlio Vargas, justamente em 1945 quando terminava o governo ditatorial. A Travessa das Mangueiras possuía, entre a 1ª e a 3ª Ruas, várias espécies dessa árvore frutífera ( cametá, rosa, comum...), as quais foram cortadas para a colocação dos trilhos do bondinho puxado a burro. Depois, passou a ser chamada de Travessa do Bispo (acesso à praia), até que recebeu o nome de Travessa Comandante Ernesto Dias, uma lembrança do infalível comandante do navio Almirante Alexandrino, por sua perícia nas atracações do vapor e por sua participação junto com os tripulantes na vida social mosqueirense. A Travessa Carlos Bentes, ao lado da Igreja Matriz, homenageia o Sub-Prefeito que administrou a ilha de 1930 a 1942. No passado, era a Rua Nova cortando a área do antigo cemitério da Vila, depois de desativado. O acesso ao bairro do Maracajá é a Travessa Siqueira Mendes, uma justa homenagem ao Cônego Manuel José de Siqueira Mendes, Vice-Presidente da Capitania do Grão-Pará que, no dia 10 de outubro de 1868, assinou a Lei da Assembleia Legislativa Provincial nº 563, transformando o Mosqueiro em Freguesia de Nossa Senhora do Ó.

O interessante é que as ruas, além de guardarem lembranças de personagens reais e de características singulares, refletem a história daqueles que ali nasceram ou viveram por muito tempo. Sem dúvida, são cenários vivos de fatos e emoções, cuja memória latente parece atravessar os tempos para ressurgir diante de um olhar poético ou de um sentir nostálgico.

2 comentários:

  1. Gostei bastante da reunião de dados que aqui compartilhou, prezado Claudionor Wanzeller; tomei sob empréstimo blogueiro as preciosas informações para elaborar uma postagem, em expressão da saudade da Rua dos Jambeiros. Quer vê-la, conterrâneo? Segue o link ~> http://namiradoleitor.blogspot.com.br/2013/08/jambeiro-uma-frondosa-arvore-nas-minhas.html

    Receba o meu abraço e a gratidão pelo belo trabalho que faz pela história da saudosa ilha paraense.

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  2. Acabei de tomar conhecimento que os avós do meu sogro possuiam uma casa com terreno que em 1905 foi vendida pela viúva, tutora dos 7 filhos menores do Português António José Ribeiro, falecido no Porto, Portugal em 1897. Situava-se na esquina de Rua Nossa Sra do Ó nº 20 com a travessa Padre Rayol. Eu sei que o local deve estar muito diferente mas gostaria de deixar esta memória do passado familiar aos meus filhos Pode ajudar-me na sua localização actual? Muito grata e parabéns pelo seu trabalho

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